“Nunca seria de esperar o mesmo número de duas mil pessoas que na nossa primeira ação abraçaram o hospital. Agora vieram cerca de três centenas de pessoas que fizeram questão de estar aqui e deram a sua opinião sobre o futuro do termalismo e exigiram ao governo maior rapidez na apresentação de soluções para o hospital”, disse António Curado, porta voz da comissão de utentes “juntos pelo nosso hospital”. À luz de velas a contestação pacífica reuniu, segundo António Curado, “pessoas de todos os quadrantes da sociedade”, incluindo a deputada da assembleia da república do PSD, Maria da Conceição, os vereadores da autarquia, deputados municipais de todos os partidos representados e o presidente da câmara das Caldas da Rainha, Fernando Costa, que autorizou a colocação em frente ao hospital de uma escultura de quatro metros de altura, em forma de H (símbolo de hospital e logótipo da comissão) com a inscrição “queremos soluções” e onde as pessoas foram deixando as suas opiniões, escritas em papel e penduradas numa corda com molas. Esta escultura, da autoria do arquiteto Jaime Neto, vai manter-se no local até ao final de janeiro. António Curado não deixou de “estranhar” que a comissão de utentes “não tenha sido informada”, numa lógica de diálogo, de que o hospital termal estava preparado para ser aberto no dia 2 de janeiro. “Estivemos em reunião com o conselho de administração no dia 21 de dezembro e na altura o que nos foi transmitido é que as condições eram muito duvidosas e não era provável que fosse para breve e no dia 28 de dezembro foi tomada a decisão. A comissão de utentes teve conhecimento da reabertura no dia 2 de janeiro por mail”, disse. O também clínico considerou que a vigília “é justificada”, apesar de ter sido marcada para pressionar a reabertura do hospital termal, uma vez que “tem de haver soluções estruturadas e estudadas para o hospital termal, para o termalismo e para o património termal”, disse, esperando que “esta reabertura não seja a prazo. Fomos informados que há uma nova adução da água termal e esperemos que os problemas estejam resolvidos e que esta solução seja definitiva, embora os especialistas digam que um só furo não chega”. António Curado afirmou ainda que a questão dos cuidados de saúde preocupa a comissão de utentes e por isso vai participar num grupo de trabalho que irá estudar a solução definitiva. “Estamos preocupados com a reorganização dos cuidados de saúde. O que fica de um lado e fica noutro. Preocupa-nos a acessibilidade da população do Oeste aos cuidados de saúde. Solicitaram que participássemos num grupo de trabalho e nós iremos estar de boa fé. Para nós há determinados pontos de partida que são óbvios. O facto de haver uma urgência médico cirúrgica numa unidade implica que haja internamento. Pode haver soluções partilhadas, mas há que haver o mínimo de regras”, declarou. Das mensagens deixadas, destaque para frases como “vamos renovar termal; é necessário gente e vida na cidade; termalismo é valor acrescentado; não à concessão a privados; não vamos deixar que nosso património histórico e cultural caia na ruína; não queremos soluções de recurso; este hospital foi criado para servir o povo e não a política”. Perante estes apelos, Fernando Costa, presidente da câmara das Caldas, revelou que aguarda há seis meses por uma proposta do ministério para a solução do património do centro hospitalar. “Ainda não recebi nada. Estou à espera. Reunimos com o senhor ministro em julho e desde essa altura não veio essa proposta. Sei que estão a elaborar”, disse. O autarca considera que uma boa proposta seria “manter o hospital termal no serviço nacional de saúde, recuperar o hospital termal, porque recuperado dá lucro, e quanto aos pavilhões e à mata, se ficarem no ministério ainda bem, mas se vierem para câmara aceitamos nas condições que lançamos. Não estamos a pedir que venham, preferimos que fique no ministério da saúde. Também percebemos que nesta fase é difícil para o ministério ter verbas para a manutenção e recuperação”. Fernando Costa sustentou que a câmara só deve receber o património com a garantia de fundos comunitários, uma vez que o hospital termal e os pavilhões necessitam de pelo menos sete milhões de euros. “Se houvesse fundos comunitários a câmara punha a comparticipação nacional. São cerca de 15 por cento, cerca de um milhão de euros para recuperar estes espaços”, explicou. O presidente da câmara também não gostou de saber da abertura do hospital termal pela comunicação social, mas não quer fazer disso um drama apesar de se mostrar preocupado, daí a sua presença na vigília. Presente nesta ação esteve a diretora do hospital termal, que confessou ter “muito amor por este hospital”. “Nunca é demais fazer ver a quem manda, e quem manda é o senhor ministro e o ministério, para lhe pedir que não encerre o hospital. Teremos de lhe pedir condições para manter o hospital aberto. Por muito que se fale com a administração, tem por detrás a tutela. Não estou contra a administração, não estou contra o ministério, eu quero é que se crie condições para o hospital termal”, disse Conceição Camacho. A responsável explicou que o hospital termal reabriu agora depois de um investimento numa nova tubagem para um novo furo, garantindo por outro lado que não há legionella nem pseudomonas, mas antes mesofilos. “Estão criadas todas as condições para que os tratamentos estejam em todos os setores a funcionar. Agora foi feita uma nova ligação do furo JK1, de um novo furo e está o outro a ser tratado”, revelou. A diretora clínica explicou que em agosto do ano passado “o hospital estava para reabrir, com autorização do presidente do centro hospitalar e do delegado de saúde, quando na última análise foi detetado que os mesófilos (uma bactéria patogénica) a 22 graus, estavam elevados. Por uma questão de prevenção, porque isso poderia indicar que alguma coisa não estava bem, não abrimos. Não há legionella nem pseudomonas, há mesofilos que por vezes aparecem ou desaparecem. Para ultrapassar isto, continuou-se aquilo que se estava a fazer, que era a ligação do JK1. Desde agosto que se estava a tratar de uma ligação alternativa. Decorreram concursos públicos, há adjudicações e tudo isso leva o seu tempo. Não esperávamos que demorasse tanto tempo. Assim que tivemos análises boas, fez-se a vistoria e no dia 29 de dezembro comunicámos que íamos abrir dia 2 de janeiro”. Depois da reabertura tem sido realizado um contacto com os utentes para regressarem, havendo já pessoas internadas no hospital termal.
Carlos Barroso
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