Nascido em Goa, na antiga Índia portuguesa, há 80 anos, Agostinho Fernandes licenciou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, em 1958. Dois anos depois foi colocado em Angola, de onde regressou em 1976, após a independência. Foi destacado para o centro hospitalar das Caldas da Rainha, onde trabalhou como médico cardiologista até 1982, altura em que se aposentou da função pública, para se dedicar exclusivamente à sua clínica particular, onde ainda se mantém.
No capítulo literário publicou, em 1962, o romance “Bodki” (sobre os costumes hindus goeses) que teve repercussão a nível internacional, ao ponto da sua biografia figurar na sexta edição do “Who’s Who in the World (Quem é quem no Mundo)”, em 1982, e no ano seguinte o seu nome já constava do “Who is Who in Western Europe (Quem é quem na Europa Ocidental)” e ainda na “Five Thousands Personalities of The World (500 personalidades do Mundo)”.
“Bodki” vai ter uma segunda edição em dezembro deste ano, a ser publicada em Goa, com tradução simultânea em inglês e concanim.
O segundo romance de Agostinho Fernandes é “Por além do além” e depois de “Alucinações” o autor prepara já a sua quarta obra, que vai ter o título de “Crónica do Outro Eu”, que será “um romance violento e por isso levará na capa uma bola vermelha indicativa de que é interdito para menores de dezoito anos”, descreveu o autor ao JORNAL DAS CALDAS.
“Alucinações” desenrola-se na região e descreve quatro situações insólitas que tiveram como cenário a região Oeste, na mesma tarde. Dos quatro protagonistas que participaram numa festa de confraternização num núcleo populacional conhecido por Urbanização da Fonte dos Corações, um assistiu ao desembarque de extraterrestres no areal da praia da Foz do Arelho e com eles viveu momentos inesquecíveis. O segundo, um velhote retornado de Angola, conduzindo o seu carro em contramão por vários quilómetros enquanto se ocupava numa acalorada discussão com Deus, provocou um grave acidente em série, com mortos e feridos. O terceiro, um pintor estrangeiro residente na região, transpôs numa enorme tela, em poucas horas, toda a gloriosa história do seu país, numa autêntica fúria louca, produzindo uma obra-prima que acabou por destruir antes de, por exaustão, ter um enfarte de miocárdio. O quarto, um estudante ainda jovem, tem uma comovente entrevista com a sua mãe, já falecida há vários anos.
Tudo isto é ficção, transformada num romance onde Agostinho Fernandes, tal como nos outros livros que publicou, vai dissecando passo a passo as quatro intrigantes situações, escalpelizando a psicologia dos personagens, um a um, até encontrar o fator comum que os liga, numa explicação simples e inesperada.
A inspiração para este livro surgiu quando estava sentado numa esplanada na praia da Foz, contemplando o por do sol. Esta edição é dedicada às Caldas da Rainha, “como gratidão pelo bom acolhimento que, há cerca de quatro dezenas de anos, me foi proporcionando”.
Narana Coissoró, seu amigo, fez a apresentação do livro. “O dr. Agostinho Fernandes é meu conhecido do liceu. Fizemos parte da mesma turma. Depois cada um seguiu a sua vida. Ele foi para Medicina e eu para Direito, mas mantivemos a amizade de sempre”, recordou.
“Este terceiro livro não é bem um romance nem ficção. Embora as personagens sejam idealizadas, são tão naturais que podiam estar hoje aqui sentadas na primeira fila a ouvir a sua própria história. Também não é uma ficção, porque a alucinação é um fenómeno próprio do homem”, apontou Narana Coissoró.
Rui Miguel/Francisco Gomes
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