“A obra desta ceramista está imbuída de sentidos, comumente mal interpretados. A apologia da sua manifestação artística é prenhe de significados suportados por um grande trabalho de pesquisa histórica e estética, que visa desmitificar uma das manifestações artísticas portuguesas mais singulares. Apesar de ser sobejamente conhecida a cerâmica das Caldas da Rainha, na manifestação mais erudita dos grandes mestres como Manuel Mafra, Rafael Bordalo Pinheiro ou o seu filho Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, a cerâmica menos erudita das Caldas da Rainha, que granjeou fama por Portugal fora e mesmo além-fronteiras, foi desenvolvida e comercializada sempre com o grande dogma dos mais puritanos; as célebres garrafas com representação naturalista de pénis”, refere o Eurostand, um dos organizadores da mostra.

“A garrafa e os percebes são, de certa forma, a manifestação mais clássica de produção cerâmica, utilizando não só o modelo tradicional da representação dos moluscos marinhos (aqui substituídos por falos em diversos estados), bem como na utilização da técnica de vidração – escorridos, utilizando a paleta tradicional de cores apuradas pelos grandes mestres”, aponta.

“A apresentação da imagem vem chamar a atenção para o papel das anónimas ceramistas, que trabalharam incansavelmente na produção de cerâmica, tanto como artistas, modeladoras, vidradoras e pintoras de obras cerâmicas, sem nunca lhes serem reconhecidas a carreira e o seu trabalho artístico. É um ato de coragem da artista, a exposição que ela faz da sua pessoa, assumindo-se como a produtora de tão emblemática obra, e arcando com a crítica que possa ser feita ao seu trabalho. É, decididamente, um ato de emancipação feminina, pleno de sarcasmo, na medida em que se manifesta na produção de uma obra emblemática da masculinidade”, sublinha.

Contrariando o sentido desta obra, surge todo um outro trabalho, de cariz muito mais matriarcal, girando em torno da feminilidade, na sua aceção mais lata.

A série intitulada “100 deformações” apresenta um conjunto de pequenos torsos, de pequeno formato, retratando sentimentos e estados, mas com sentido global. Os títulos individuais das obras que compõem esta série provocam no espectador um sentido de revolta, pela provocação que sugerem. “Títulos como Aborto, Toxicodependente, Grávida e Ferida, remetem-nos para o questionamento das desigualdades sociais e do universo mágico do ser humano”, comenta o Eurostand.

São ainda apresentadas obras totémicas, como o ‘Esclave’ do sistema, Nu feminino, Amores de mulher e Humanidade, que remetem para diversos temas da sociedade contemporânea.

Umbelina Barros nasceu em 1974. Em 2008 concluiu a licenciatura em Artes Plásticas e Novos Média, na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha.

Em 2010 realizou o Mestrado em Artes Plásticas, sendo a obra “A garrafa, os percebes e a imagem” o culminar de um processo de pesquisa teórico, prático e histórico.

Presentemente está a frequentar o Doutoramento em Ensino Artístico, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, em parceria com a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da universidade do Porto.

Desde 1998 que possui oficina própria, nas Caldas da Rainha, tendo participado em diversas exposições individuais e coletivas.