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Onda de solidariedade para salvar animal

Égua maltratada e abandonada em Leiria acabou por morrer nas Caldas

Francisco Gomes

EXCLUSIVO

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Uma égua encontrada na semana passada em estado muito debilitado num terreno em Leiria gerou uma onda de solidariedade para resgatá-la e tentar recuperá-la. Mas as mazelas de “Spirit”, como foi batizada, acabaram por ser fatais. Trazida para Caldas da Rainha por uma associação protetora de cavalos, apesar do enorme esforço para mantê-la viva foi tomada a decisão de acabar com o seu sofrimento.
A égua foi encontrada caída num terreno

“Tinha-lhe feito uma promessa de que enquanto ela tivesse força para continuar, eu faria tudo para ajudá-la. Tinha sido tão forte e fiz tudo o possível. Teve um dia mau e “disse-me” que não aguentava mais. Ela estava com tanta dor que desistiu da luta. A única coisa humana a fazer era colocá-la a dormir. Era nosso dever acabar com o seu sofrimento. Foi a coisa mais difícil que já fiz”, relatou ao início da manhã da passada quinta-feira Sharon Clarke, da Their Voice, Associação para a Proteção de Cavalos, com sede na Rua 1 de abril, nº9, no Campo, nas Caldas da Rainha.

“Alguém pode ajudar? Cavalo abandonado está muito debilitado, necessita ajuda urgente, já não se levanta e está num terreno alagado em água e lama, nas traseiras da Quinta da Gordalina, junto ao Rio Lis em Leiria”. Foi este o apelo lançado no Facebook na tarde de 23 de setembro. Marco Veríssimo, do clube Aventura 100 Limites, dedicado a vários desportos de aventura, praticava BTT no local quando viu o animal caído e abandonado moribundo.

“Em apenas 40 minutos após a divulgação deste pedido de ajuda já tinham sido efetuadas 180 partilhas e 24 horas depois já tinham sido ultrapassadas as 1000 partilhas”. Chegou a atingir as 1918 partilhas e começou a gerar-se um movimento de solidariedade de Norte a Sul do país, e mais tarde até do estrangeiro, criticando o proprietário do animal por o ter deixado ali naquele estado e pedindo a sua punição.

Mas mais importante no momento era socorrer a égua. Das palavras aos atos, mobilizou-se um grupo de oito pessoas disposto a tentar levantar o animal e encaminhá-lo para tratamento.

“Na noite começou a organizar-se o resgate e a primeira fase ficou concluída às 5h16 da manhã [de 24 de setembro]. Já está de pé e a alimentar-se num terreno seco”, era revelado no Facebook, rede social que passou a ser o veículo informativo do ponto da situação.

Às oito da manhã a égua estava deitada outra vez. Não aguentava o esforço, mas eis que a meio da tarde, com a ajuda de uma grua, conseguiram que entrasse num atrelado. A missão, com contornos épicos, levou a dada altura a aparecer a intenção de dar um novo nome à égua – “Corajosa” – mas manteve-se “Spirit”.

O animal foi levado para a sede da Their Voice e a cada minuto não paravam as perguntas dos cibernautas sobre o seu estado.

“Ela precisa de uma alimentação cuidada e de alguns produtos naquelas feridas causadas por estar deitada tanto tempo no chão”, informava Nuno Tomás, da Their Voice.

No dia 25 era divulgado o apelo: “Urgente: Precisamos de ajuda. A égua que resgatámos ontem caiu novamente. Nós não conseguimos levantá-la. Precisamos o máximo de pessoas possível para ajudar”.

Os bombeiros das Caldas da Rainha deslocaram-se ao local com um camião e grua que a ajudaram a levantar-se. O Centro Equestre Luís Real também prestou ajuda.

“A “nossa” égua voltou a cair esta manhã mas já está novamente de pé e anda já na rua com coragem de sobreviver. Aguardamos resultado das análises por parte do veterinário”, indicava o novo ponto de situação.

Mas mais tarde, as notícias não eram boas: “Tivemos de chamar novamente os bombeiros para a pôr de pé de novo e ela está com cólicas e está muito fraca. Não sabemos se vai sobreviver”. Na manhã de quinta-feira confirmava-se que a debilidade e a magreza que “Spirit” apresentava eram incontornáveis.

Proprietário multado

A égua já se encontrava abandonada no terreno em Leiria há quase um dia, quando foi descoberta. Uma moradora nas redondezas deu o alerta. Segundo a Câmara Municipal de Leiria, “assim que foi informado, no domingo de manhã [23 de setembro], que se encontrava um cavalo com sinais de se encontrar doente, o veterinário municipal deslocou-se ao local, onde esteve reunido com agentes da PSP e com o proprietário do cavalo, residente na Marinha Grande, que se comprometer a removê-lo até ao final desse dia”.

“Na ocasião, o veterinário municipal examinou o cavalo e constatou que este se encontrava desnutrido, desidratado, tinha uma contusão num membro anterior, uma lesão grave na anca e escoriações, pelo que não se levantava”, relatou a autarquia.

O comunicado da Câmara prossegue: “Às 19h30, o veterinário municipal voltou a ir ao local para verificar se o cavalo já tinha sido retirado dali, o que ainda não tinha sucedido. O animal encontrava-se sozinho. Hoje de manhã [24 de setembro], o veterinário municipal regressou ao local, a pedido do SEPNA – Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente da GNR, e constatou que a situação se mantinha, apesar de o animal estar acompanhado por cerca de 15 pessoas, que lhe procuraram dar algum conforto”.

“Já durante a tarde, a Their Choice, uma associação de defesa de cavalos de Caldas da Rainha, transportou o animal para aquela cidade, operação que foi autorizada pelo SEPNA por já terem passado 24 horas desde que os proprietários do cavalo foram notificados para retirar o animal daquele local”, indicou a Câmara, que sublinhou que a égua “é propriedade de um privado, pelo que não era da competência da Autarquia resolver este problema”.

“Contudo, a Câmara Municipal de Leiria, através do veterinário municipal, deslocou-se três vezes ao local para acompanhar a evolução da situação, sempre na expectativa que o animal já tivesse sido removido pelo proprietário, o que, lamentavelmente, nunca chegou a acontecer”, concluiu.

De acordo com as autoridades policiais, o proprietário do animal será alvo de uma contraordenação.

Pedido de terreno à Câmara das Caldas

Fundada a 5 de junho deste ano, a Their Voice representa “um grupo de amantes dos animais com um interesse comum no resgate, reabilitação e re-homing de cavalos, póneis e burros na região Oeste”.

Assume como missão “apoiar e educar os proprietários de cavalos através da partilha e prestação de informações sobre todos os aspetos da criação de cavalos e de gestão estável, e formar relações com as escolas locais e comunidade em geral para educar e sensibilizar para o cuidado equídeo em geral”.

Pretende “trabalhar com clínicas veterinárias locais e das autoridades, para fornecer um refúgio seguro para gado equino maltratado ou abandonado”. Tenciona também “adotar cavalos, póneis e burros cujos donos apresentem dificuldades financeiras”. Poderão entregues à Associação para esta encontrar um novo lar para estes animais.

É uma associação sem fins lucrativos, e depende apenas de doações (Nib: 0010000048344900001 27). Para além disso há sempre necessidade de madeira para construção, sacos de cimento e alimentação animal.

A Their Voice reuniu em agosto com o presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha. Segundo a associação, a reunião “correu bem” e Fernando Costa “ficou admirado como era possível maltratar animais que custam dinheiro”. “Relatámos alguns exemplos de cavalos já resgatados e de outros já adotados. Ficámos a aguardar a decisão para empréstimo de um terreno, para assim podermos continuar com esta nossa missão”, divulgou a Their Voice.

Francisco Gomes

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