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Pensar a Cidade

Fernando Sousa

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Da reflexão quanto aos temas possíveis para esta coluna, impôs-se-me a ideia de que era necessário um fio condutor que desse coerência e estrutura ao que aqui vá surgindo. Partindo desta premissa, e sem prejuízo de eventual aproximação a algum assunto que entenda ser relevante, será uma visão transversal da nossa cidade que pretendo abordar. Por visão, entendo uma reflexão interventiva. Transversal, sê-lo-á por não se imporem limites aos temas a abordar.

Definida a metodologia, passemos à prática. Por onde começar? Pelo princípio, creio. Princípio? Qual? Simplesmente “ A Cidade – Caldas da Rainha”.

Por definição, a designação “Caldas” refere a existência das águas termais. “Da Rainha”, reporta à fundadora, D. Leonor de Lencastre. Ou seja, Caldas da Rainha traz na sua matriz fundadora a característica indelével de nascer já com as termas como sua característica relevante e diferenciadora. Tudo o resto cresceu à volta do Hospital que D. Leonor criou, e ao qual deixou como legado o direito a bens que garantiram a sua autonomia, então e depois, mas a que impôs também deveres.

E Caldas da Rainha foi crescendo em função destes três vectores, bem como da realidade incontestável de que o seu progresso dependia da diferenciação que a qualidade de Vila termal lhe conferia. Caldas da Rainha ascende a Cidade pela mão de comerciantes locais e de notáveis, frequentadores da termas, sendo que o comércio local dependia destes, essencialmente.

Enquanto as termas, vide Hospital Termal, foram o motor do progresso, Caldas cresceu e afirmou-se regional e nacionalmente, ganhou notoriedade e fama.

A partir da decadência geral das termas, preteridas em benefício das praias, que teve início nos anos 60 do séc. XX, a cidade foi-se descaracterizando e descentrando, a centralidade económica, cultural e demográfica que o Hospital Termal assumia foi decrescendo, até à situação actual.

É pois em torno desta que a História das Caldas se construiu. Será em torno destas, ou não, que o Futuro se fará. Futuro em letra grande ou pequena, o tempo o dirá. Com uma certeza, o Futuro somos nós, os habitantes de Caldas da Rainha, que o faremos. As nossas escolhas dirão se iremos continuar a ser o que somos neste momento, se continuaremos onde a nossa inactividade cívica nos trouxe, se iremos continuar a ser a cidade que está perto de Óbidos.

Perguntem a qualquer estrangeiro se conhece Caldas da Rainha, e a decepção será grande, poucos nos conhecem, ao contrário do que acontecia até há umas dezenas de anos. Mas a menção de Óbidos suscita a reacção oposta: ou já lá estiveram, ou conhecem alguém que esteve.

Há que assumir a situação, que perceber quais as razões, o porquê deste declínio, aprender as lições, definir objectivos, traçar o rumo para os atingir, arregaçar as mangas e começar a trabalhar para chegar a bom porto.

Ou não…

(O autor deste texto não reconhece o Acordo Ortográfico)

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