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Fernando Costa vai reformar-se da Câmara das Caldas e regressar à advocacia

Carlos Barroso

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Fernando Costa pediu os papéis para a reforma. Diz que vai exercer advocacia. Não sabe se vai terminar este seu último mandato. Quer uma lista do PSD com Tinta Ferreira, Hugo Oliveira e Maria da Conceição. E mostra-se zangado com as declarações de Telmo Faria, classificando-as de injustas.
Fernando Costa pensa no seu sucessor/foto Carlos Barroso

Estas são ideias gerais de uma entrevista do presidente da Câmara das Caldas, que há 27 anos está à frente da autarquia e que tem nas suas mãos a decisão da sua sucessão.

JORNAL das CALDAS: Do que fez ao longo de 27 anos, o que não faria ou faria de outra forma? Fernando Costa: Eu não tenho a convicção que tenha feito tudo bem. Naturalmente que algumas coisas, se voltasse atrás e fizesse de novo e se soubesse o que sei hoje, faria algumas coisas diferentes. No geral, as obras feitas foram importantes, necessárias e úteis. Não tenho de me arrepender do trabalho feito. Aliás, não está tudo feito, eu gostaria de fazer mais. Quando entrei para a câmara, não pensei em fazer tanto. Os objetivos não eram tão grandes e hoje vejo que foram ultrapassados. A população vai pedindo e exigindo novas metas e necessidades. O concelho das Caldas tem respondido bem aos anseios da população. Tenho a noção de que não está tudo feito. Há sempre mais para fazer.

J. C. : O quê? F. C.: A nível da câmara confesso que o essencial está feito. Mas tenho pena que o termalismo, a segunda fase do hospital com o seu alargamento, a melhoria do hospital termal, o parque e a mata, o alargamento do museu da cerâmica, que são da responsabilidade do Governo, não se tenham atingido os objetivos há muito tempo falados. Lamento que as questões do termalismo não estejam resolvidas. Tenho pena que o Estado não tenha avançado com o alargamento do museu de cerâmica. Nas obras da câmara o essencial está feito. Somos dos municípios com melhores equipamentos municipais. Desde os equipamentos escolares aos desportivos. Há anos a população queixava-se que não tinham piscinas e hoje há piscinas a mais. Estou de consciência tranquila. A regeneração urbana está a desenrolar-se, mas não é fácil concretizar, porque podia ter-se feito mais. Estou muito satisfeito com esta experiência nas Caldas e não é por acaso que a câmara das Caldas é uma referência a nível nacional das câmaras que têm feito muito, com a vantagem de não ter dívidas e com a particularidade em que as pessoas pagam menos do que pagam na maioria dos concelhos do país. A câmara das Caldas deixa de receber cerca de três milhões de euros por ano em IRS e IMI e outras taxas. Deixa de cobrar três milhões de euros por ano às pessoas, significa que em dez anos são 30 milhões que deixamos de receber. É o equivalente a um orçamento da câmara. Mesmo assim acho que o essencial está feito. Se tivéssemos cobrado esse dinheiro tínhamos feito mais, mas as pessoas estavam mais pobres e o concelho estaria ligeiramente melhor. Mas essa melhoria não justificaria que se cobrassem 30 milhões de euros às pessoas.

J. C.: Para onde vai o Dr. Fernando Costa? F. C.: Vou para casa.

J. C.: Vai largar a vida política? F. C.: Não sei.

J. C.: Então qual é a sua ambição? F. C.: Para já estou a pensar em descansar e preparar o regresso à advocacia, diferente daquela que tinha noutros tempos, que era muito intensa e com muito trabalho. Estou a pensar em reconstruir o escritório, nas Caldas e eventualmente em Lisboa. Quando se é advogado, é-se em todo o país. Posso ter escritório nas Caldas, mas advogo em todo o país. Para já estou a pensar só nas Caldas.

J. C.: Mas não pensa em concorrer a uma câmara municipal, ir para um ministério ou secretaria de estado? Há alguma função pública ou privada que gostaria de desempenhar, agora que vai sair da câmara das Caldas? F. C.: Não estou a pensar nisso. Eu não gostaria de ir para um serviço que não saiba fazer. Também não gostaria de ir para um serviço em que tivesse de andar a estudar tudo de novo para fazer alguma coisa de utilidade.

J. C.: Isso quer dizer que presidente de câmara noutro concelho, embora se fale muito disso, não é um objetivo? F. C.: Fala-se muito, mas não há nada de concreto, nem está nos meus objetivos. Não é a mesma coisa ser presidente de câmara num concelho e depois mudar para outro, porque apesar de saber como funciona uma câmara municipal, não conheço os concelhos. Isso obrigava-me a um grande esforço e essa é uma hipótese muito afastada. Nem sequer se sabe como vão ser as novas leis do poder autárquico, ainda não está claro se isso vai ser possível e eu não estou a correr atrás de câmaras. Se estivesse muito interessado já podia ter uma ideia de A, B ou C, porque já alguém se lembrou de mim. Mas em concreto e oficialmente não. Eu também não estou a pôr essa hipótese.

J. C.: Isso quer dizer que vai levar o seu mandato até ao fim? F. C.: Posso não levar. Não sei. Já meti os papéis para me reformar e depois de virem é que vou decidir.

J. C.: Para quando é que isso vai acontecer? F.C.: Ainda não sei.

“Há muitas pessoas que podem ser presidente de câmara no próximo mandato”

J. C.: Como é que está a pensar na sua sucessão? Tem trabalhado muito nisso? F. C.: Não tenho trabalhado nada nisso. Gostaria que a câmara continuasse o trabalho que foi feito, e sobretudo que a próxima câmara não aumentasse os impostos às pessoas e, se possível, ainda descesse os impostos. Acho que ainda há a possibilidade de descer mais os impostos, porque só se deve gastar o dinheiro que é fundamental. Aquilo que eu gostaria é que a próxima câmara não se deixasse endividar e que fosse tão séria como a Câmara a que eu tenho presidido.

J. C.: E quem é que tem essas características? F. C.: Não sei. Não tenho opiniões e não lhe vou responder neste momento, porque seria precipitado estar a dar opiniões nessa altura.

J. C.: Mas se levar o mandato até ao fim, a escolha será pelo partido, mas se não o terminar a sua sucessão ficaria mais simples. F. C.: Não lhe posso responder porque não sei o que vai acontecer sobre essa matéria.

J. C.: Mas tem a consciência de que está nas suas mãos a sucessão? F. C.: O PSD deve escolher até ao final do ano, o mais tardar até 30 de março de 2013, porque são os objetivos anunciados pelo partido.

J. C.: Gostaria de ver a D. Maria da Conceição à frente da câmara, ou o Dr. Tinta ou o Dr. Hugo? F. C.: Há muitas pessoas que podem ser presidente de câmara no próximo mandato.

J. C.: Quem? F. C.: São muitas. Não vou entrar em palpites e prognósticos, porque esses só no fim do jogo.

J. C.: Mas o fim do jogo está nas suas mãos. F. C.: Eu posso ajudar, mas não vou influenciar. Quero ter uma palavra de apoio e esclarecida para que se encontre uma boa solução. Se possível a melhor solução, mas não posso adiantar mais do que isto.

J. C.: Acha que a divisão entre o Dr. Tinta Ferreira e o Dr. Hugo Oliveira e as suas últimas intervenções podem levar o partido a perder votos? F. C.: Eu desconheço a divisão e como tal não posso falar dela.

J. C.: Então o Dr. Fernando Costa não tem problemas com o Dr. Hugo Oliveira sobre um eventual apoio ao Dr. Tinta? F. C.: Não tenho problemas nenhuns. Dos três só um pode ser um candidato a presidente da câmara e na minha opinião é que devem ser os três na mesma lista. Um deles deve ser o primeiro. O outro deve ser segundo e o outro deve ser terceiro. Quem vai ser o primeiro e o candidato, não lhe posso dizer. Não sei quem vai ser.

J. C.: Sendo um destes a encabeçar a lista, o Dr. Fernando Costa vai apoiar, participar na campanha como munícipe e militante do PSD? F. C.: Quem se deve pronunciar em primeiro lugar é o partido e não eu. Espero que haja um largo consenso à volta de um candidato e devemos de ter em conta o que os militantes e a população das Caldas querem. Não se devem estar a indicar candidatos contra a opinião das pessoas. Deve-se escolher a pessoa que reúna mais consenso, mas penso que deveriam ficar os três na lista.

J. C.: E para saber qual é essa pessoa o partido está a fazer alguma sondagem? F. C.: Ainda não. Falou-se que andava aí uma sondagem, mas ainda não foram publicados esses dados.

J. C.: Mas para si, qual é o perfil do candidato? F. C.: Uma pessoa trabalhadora e disponível. Sobretudo muito séria, porque sem seriedade as câmaras são mal governadas e entram facilmente em endividamento. É questão fundamental para quem for presidente de câmara em toda a parte, defenda em primeiro lugar os interesses da câmara e que ponha os interesses dos grupos dos amigos e o partido de parte. Quem não for presidente de câmara com estas regras, chumba, endivida a câmara e falha. Quando não é assim deve ir parar à prisão.

“O Dr. Telmo Faria fez-me um ataque pessoal”

J. C.: O que é que tem a dizer das recentes declarações do Dr. Telmo Faria, de ser ou não candidato à Câmara de Leiria ou até à autarquia da Caldas? F. C.: Quanto à câmara de Leiria as declarações dele são um ataque pessoal e injusto à minha pessoa. Não estava à espera que o Dr. Telmo Faria as fizesse, porque são injustas, falsas e até graves. O Dr. Telmo Faria vem dizer que não é candidato à câmara de Leiria ou de outro concelho por culpa minha, mas ele que diga porquê. Por mim ele pode ser candidato a Peniche ou a qualquer concelho. Ele até pode ser candidato às Caldas, embora em relação às Caldas, ele dê entender isso, mas eu duvido e acho até estranho.

J. C.: Porquê? F. C.: Ele alega que é natural das Caldas. Mas acho estranho, porque enquanto foi presidente de Óbidos tentou levar tudo daqui. Fica-lhe mal dizer que quer ser candidato às Caldas. Tentou levar a escola de turismo de Caldas para Óbidos. Tentou levar um conjunto de empresas das Caldas para Óbidos. Quando a câmara das Caldas fez o centro cultural minimizou-o e apontou que ia fazer um grande centro de ópera em Óbidos, mas eu ainda não o vi. Quando há uns anos se falava que ia ser feito um grande centro comercial nas Gaeiras, que era prejudicial para o comércio das Caldas e de Óbidos, não se preocupou. Há bem pouco tempo numa reunião de presidentes de câmara disse que não era candidato às Caldas, porque era descer de cavalo para burro. Portanto é difícil ser candidato às Caldas. Mas até fico satisfeito que agora mude de ideias. Isso significa que Caldas já não é um burro ao pé de Óbidos ou, não sei, se agora as Caldas são o cavalo e Óbidos é o burro, ou ainda se agora são os dois concelhos, dois cavalos. Mas se mudou de ideias ainda bem. Num contexto destes, não sei se as pessoas das Caldas aceitariam. Isso não depende de mim. Quem tem de aceitar e escolher não sou eu. Somos dois concelhos muito diferentes. Óbidos tem a população da freguesia de Nossa Senhora do Pópulo. Caldas é cinco vezes maior do que Óbidos. Não sei se o Dr. Telmo tem tempo para se dedicar em exclusividade a um concelho como as Caldas. Quem quiser ser presidente da câmara das Caldas não pode andar a fazer outras atividades, porque senão deixa todas as outras coisas para trás. Eu tenho algum receio que o Dr. Telmo viesse pôr os impostos municipais das Caldas ao nível daquilo que se paga em Óbidos e em Óbidos paga-se muito mais do que nas Caldas. Mas confesso que o Dr. Telmo é um homem de qualidades. Somos duas pessoas diferentes, temos duas maneiras diferentes de ver os dois concelhos. O Dr. Telmo fez várias empresas municipais em Óbidos que são grandes absorvedoras de dinheiro, mas nas Caldas não há empresas municipais.

J. C.: Mas existem várias associações. F. C.: Há várias associações, mas nenhuma delas gasta cinco por cento do dinheiro que gasta uma empresa municipal em Óbidos. Aquilo que a câmara das Caldas dá a uma associação municipal, é dez por cento daquilo que custam as empresas municipais em Óbidos. Óbidos tem os impostos muito mais altos. Veja o IMI e a dívida de Óbidos, que é muito maior do que a das Caldas.

J. C.: Considera que o Dr. Telmo Faria não seria um bom candidato quer para Caldas, quer para Leiria? F. C.: Eu acho que o Dr. Telmo é um bom candidato em qualquer concelho.

J. C.: Mas para ser seu sucessor não serviria? F. C.: Seria um presidente de câmara diferente. Mas esse diferente até pode ser bom. Eu não estou a dizer que não seja um candidato bom às Caldas e um candidato ótimo a Leiria. O que é falso é que eu esteja a impedir que isso aconteça.

J. C.: Então não impede que ele seja candidato em qualquer câmara na distrital que você lidera? F. C.: Não é a distrital que tem esse poder. Os candidatos num determinado concelho dependem da comissão política nacional em primeiro lugar e da comissão política de secção. A distrital é apenas um patamar intermédio entre a concelhia e a nacional. A última palavra é da comissão política nacional. Se o Dr. Telmo quiser ser candidato num concelho do distrito, tem em primeiro lugar de ter o apoio da secção local e não precisa do presidente da distrital.

J. C.: Acha que ele teria capacidade para ter apoio na comissão política das Caldas que é liderada por si? F. C.: Para já nas Caldas existem pessoas com muitas capacidades para serem presidentes de câmara.

J. C.: Melhores que o Dr. Telmo? F. C.: Diferentes. Eu não digo que ele não seja um bom candidato. A gestão das Caldas foi sempre muito diferente de Óbidos. Agora compete às pessoas dizerem o que é melhor. É falso que eu esteja a impedir a candidatura. Não basta querer ser. É preciso que a secção local e o partido a nível nacional queiram.

J. C.: Disse há pouco que para se ser presidente de câmara tinha-se de ser sério e trabalhador. O Dr. Telmo não tem essas qualidades? F. C.: Presumo que tenha, mas eu não sei bem da vida do Dr. Telmo. Não me pergunte a vida que ele faz, porque não sei. Eu estou a tempo inteiro e a cem por cento na câmara. Sei que é um requisito para se ser um candidato à câmara das Caldas, como outra do país, que tenha disponibilidade. Quando um presidente de câmara divide a sua atividade entre várias coisas, alguma fica para trás.

“As eleições autárquicas vão ser muito influenciadas pela ação política nacional”

J. C.: E como está a ver o cenário das eleições autárquicas no próximo ano? O PSD pode obter um bom resultado em Leiria? F. C.: As vitórias dependem das secções, da secção nacional e da ação do Governo. Não é o Fernando Costa presidente da distrital em Leiria, que descobre e faz milagres. Se a equipa camarária é feita em primeiro lugar pela secção local e pela comissão política nacional, não pode ser pedido ao presidente da distrital, porque não tem esse poder, que seja ele o garante das vitórias. As eleições autárquicas vão ser muito influenciadas pela ação política nacional, nomeadamente o desemprego, a situação económica, a lei de agregação de freguesias. Tudo vai ter influência nas eleições. Pela minha parte tudo farei para se encontrarem as melhores equipas.

J. C.: A comissão política da concelhia das Caldas não vai a votos até às autarquias? F. C.: Ainda não sei. Ainda estamos a tempo de ter eleições.

Carlos Barroso

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