Vasco Conde, atualmente com 55 anos, ainda pretende defender a causa por mais meia década, porque ama a camaradagem e gosta de salvar vidas. Este retificador de peças na empresa Schaeffler, antiga Rol, ocupa o cargo de sub chefe no corpo de bombeiros das Caldas desde 1991, mas há 37 anos que veste a farda, o que já lhe pode valer a atribuição o crachá de ouro da Liga de Bombeiros Portugueses. “Receber o crachá de ouro da Liga é um reconhecimento daquilo que fizemos ao longo destes anos. Neste momento sou o bombeiro mais antigo ao serviço. Enquanto me deixarem vou aqui andar. Posso ir até aos 60 anos ou 65 anos se o comando entender que eu cá posso andar. Pelo menos mais cinco anos quero aqui andar”, disse ao JORNAL DAS CALDAS. Apesar de estar perto do limite da idade para continuar no ativo, Vasco Conde ainda deseja ter mais sabedoria. “Neste últimos cinco anos que me faltam, gostava de tirar um curso. Talvez de matérias perigosas. Mas acho que talvez não valha a pena, porque daqui a meia dúzia de anos vou-me embora e a minha vida profissional não me permite perder tempo. Os cursos desenvolvem-se durante a semana e eu não posso prescindir do meu trabalho”, relatou. Para entrar nos bombeiros a tarefa não foi fácil. Teve de esconder da mãe, já que perdeu o seu pai aos quatro meses de vida, quando este andava na pesca do bacalhau. “A minha mãe não aceitava esta minha vontade, mas eu entrei nos bombeiros sem ela saber. Ela não queria, porque tinha medo”, contou, adiantando que a progenitora só descobriu que estava nos bombeiros quando “um dia íamos para um incêndio para a Serra dos Candeeiros, à hora de almoço, e o carro cruza-se com ela, e viu-me em cima do carro. Foi assim que ela descobriu”. Este gosto surgiu quando assistiu a um fogo urbano na Foz do Arelho, de onde é natural. “Quando vi aqueles homens a apagarem o fogo, fiquei entusiasmado. Tinha seis anos na altura e quando vim morar para as Caldas, aos 12 anos, pensei entrar nos bombeiros. Foi algo que mexeu comigo. Consegui entrar na fanfarra aos 16 anos e um ano depois entrei na recruta”. Na altura vivia-se o ano de 1973 quando entrou para a causa, jurando bandeira no ano seguinte. Apesar dos anos passados Vasco Conde não se sente velho, antes pelo contrário, jovem de espírito guardando saudades da camaradagem. “Não me sinto velho para estar nos bombeiros, pelo contrário. Para quem quer ser bombeiro, há que ter espírito de sacrifício, de voluntarismo. Não vale a pena vir para os bombeiros só para dizer que vestem uma farda. Isso é perder tempo”, sustentou. Vasco Conde considera que atualmente é mais fácil ser-se bombeiro, uma vez que a sabedoria e evolução tem ajudado os bombeiros, assim como a tecnologia. “Antigamente os carros que tínhamos tinham um cartel com meia dúzia de metros. Até onde chegava o cartel com água apagavam-se as chamas, o resto era com o batedor na mão”, descreveu. “Quando comecei como bombeiro a Serra dos Candeeiros todos os anos ardia. Chegámos a estar ali oito dias seguidos. Hoje em dia somos rendidos 24 horas depois. Naquele tempo era mais difícil”, disse. “Nos fogos, o corpo de bombeiro da zona arranja qualquer coisa para nós comermos, mas a particularidade e diferença de hoje, é que as pessoas da zona estavam sempre a fornecer comida aos bombeiros. A população andava sempre preocupada. Se não tínhamos comida ou água ou leite, iam buscar e davam. Hoje em dia já não há tanto este espírito, mas ainda aparecem pessoas a fazerem isso”, declarou. Dantes, o socorro “era chegar ao local, carregar e ir para o hospital o mais depressa possível. Hoje já não se faz isso. Hoje faz-se uma avaliação, imobilização, coisas que não se faziam há trinta anos. Estas coisas são uma mais valia para os bombeiros e para o socorro às pessoas. Nós precisamos de curso. Quem não sabe, não salva. A evolução nos bombeiros é uma mais valia para a instituição”, sublinhou. “Quando salvamos ficamos contentes e quando não conseguimos salvar ficamos tristes, frustrados, mas damos sempre o nosso melhor”, frisou. “A nível de alimentação, a associação paga as refeições para quem está de serviço, mas antigamente o pessoal juntava-se e pagava a sua alimentação. Íamos à praça do peixe e da fruta e comprávamos as batatas, as alfaces, íamos ao talho, íamos ao peixe e fazíamos o almoço e o jantar”, recordou. “Antigamente o espírito de camaradagem era superior, era mais vincado. Hoje a malta mais nova por ter telemóveis, televisão, Internet e outros fatores de distração, leva-os a fugir do voluntariado. Felizmente que ainda há aqui um espírito de camaradagem valente, mas já não é igual”, considerou. Vasco Conde relatou que as experiências mais marcantes foram os anos oitenta e noventa quando havia todos os fins de semana acidentes na antiga estrada da foz. “Lembro-me de um que o indivíduo estava no exterior da viatura e sem uma perna. O homem nem se tinha apercebido que não tinha a perna, porque estava em pé. A estrada da Foz foi traumatizante pelo grande número de mortos que ali havia. Era raríssimo o fim de semana que não tivéssemos um ou dois acidentes com mortos naquela estrada. Felizmente que isso foi ultrapassado”, afirmou. Hoje em dia quando está a dormir sonha com a sirene a tocar. Esse talvez seja o trauma e o desespero de quem está sempre pronto para ajudar. Dos bombeiros no ativo, há poucos que chegam aos 35 anos de serviço. Além de Vasco Conde, há ainda José Domingos, que esteve 40 anos como bombeiro e saiu para o quadro de honra como comandante, pelo facto de ter sido ajudante de comando. Ir para esse quadro é um dos objetivos de Vasco Conde, quando a hora chegar. “Ir para o quadro de honra é o sonho de qualquer bombeiro, porque mesmo depois de não podermos estar aqui a nível operacional, continuamos ligados aos bombeiros”, disse. Passados tantos anos o que fica para trás é uma amizade inexplicável pelos bombeiros e por esta família, mas também um agradecimento enorme para a sua família, em especial para a sua esposa, que está sempre preocupada com o bombeiro mais antigo no ativo. “30 anos depois, a sirene toca e minha mulher não me diz nada. Sabe que gosto, que tenho de vir. Quando a sirene arranca não há nada que me trave. A minha mulher tem sido uma excelente companheira. Liga-me para saber como estou, se vou almoçar, jantar. Ela preocupa-se comigo e sabe que quando vou para os bombeiros não tenho hora para chegar”, referiu.
Vasco Conde
O bombeiro voluntário há mais anos nas Caldas em funções
6 de Junho, 2012
Há perto de quatro décadas que é bombeiro voluntário, o que o faz o mais velho soldado da paz em exercício de funções no quartel das Caldas da Rainha.

Bombeiro voluntário há já quase quatro décadas/Foto Carlos Barroso
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“Quando a sirene toca não há nada que me trave”/Foto Carlos Barroso -
Vasco Conde é um exemplo para a corporação da a sua longividade de voluntariado/Foto Carlos Barroso -
Apesar de ter quase quatro decadas dados à causa ainda não se sente velho e pretende tirar mais um curso/Foto: Carlos Barroso
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