Continuamos a receber notícias de jovens que estiveram em Madrid nas Jornadas Mundiais da Juventude. Durante o violento temporal de chuva torrencial alguém gritou: “estamos emPapados”. Foi quanto bastou para a frase ecoar por todo o lado: “ Estamos empapados!” A papa era um facto: cartazes, folhetos, papelões usados no chão para dormir…tudo estava mole, encharcado, empapado. Até mesmo grande parte das partículas que estavam preparadas para serem consagradas durante a Missa do dia seguinte formava uma massa mole, uma papa. Também as roupas estavam ensopadas e pesadas, informes. Mas os jovens sentiam-se emPapados. À medida que o Papa lhes ia falando, eles absorviam as suas ideias, tornavam-nas suas, apoderavam-se delas, deixavam-se embeber, impregnar, emPapar. Enquanto a matéria se desfazia, os espíritos – sempre alegre e bem conscientes do essencial – fortaleciam-se. Sabemos como os jovens têm grandes ambições e se dispõem a grandes sacrifícios para as alcançar: serem grandes desportistas, artistas, políticos, investigadores…para isso necessitam deixarem-se orientar por um treinador, professor ou orientador que lhes explique como devem fazer, quais os treinos adequados, as melhores ferramentas, os livros indicados e, além disso, que lhes saiba exigir cada vez mais dentro das suas possibilidades. Este foi o papel do Papa: ser o mentor daquela enorme multidão que resistia à tempestade para se deixar emPapar. Esta atitude é um bom exemplo de um acto livre. De modo simplificado, diremos que a liberdade é composta de duas fases: a escolha e a adesão a essa escolha. A escolha recai sobre várias opções possíveis: o curso a seguir, a profissão, a noiva… e supõe algum cuidado prévio: estudo, aconselhamento, avaliação dos gostos, das habilidades, das capacidades económicas, etc. É o tempo de exercitar a inteligência para pensar e ponderar. Feita a escolha, ficam de lado todos os outros cursos, profissões, mulheres. Chegou o momento da constância e da persistência, mesmo que “chovam raios e coriscos” (dificuldades, contrariedades, dores, incómodos) como em Quatro Vientos. É aqui, na fortaleza, que se manifesta a liberdade. A liberdade atinge agora a idade adulta com a sua característica própria: deixar obra feita. Por isso, a escolha é o acto próprio do adolescente e a fidelidade à escolha vai-se tornando visível à medida que o homem se torna mais adulto, mais responsável, mais trabalhador e menos folgazão. Os quase dois milhões de jovens em Madrid deram assim testemunho da sua maturidade: a figura de Bento XVI atraiu-os, decidiram estar com ele e não desistiram da aventura, mesmo perante grandes incómodos, até alcançarem o seu objectivo: ficarem emPapados. Isabel Vasco Costa