A culpa é uma palavra muito feia, tenho dito por aí de há uns anos a esta parte. A culpa pressupõe quase que um pecado mortal que nos levará ao Inferno caso não nos façamos redimir. Prefiro falar em responsabilidade – no acto, no feito e, em última análise, na intenção. De uma forma ou de outra, falar em responsabilidade é também ‘passar a batata quente’ a alguém mas não verbalizar uma frieza e quase que indiferença a quem agiu de determinada forma, neste caso, menos correcta. Quero expressar a minha frustração por continuar a constatar diariamente que ‘a culpa é (sempre) do Governo’ e que o português continua a ser a vítima, o ‘atingido’ e o ‘pobre coitado’ que não tem sorte nenhuma, que não tem oportunidades de emprego, em que o Governo não confia, a quem o Governo não ajuda, de quem a sociedade tem repudia. O pobre do português tem-se vindo a construir e, mais do que nunca, teima em reconhecer que tem ‘responsabilidade (e não culpa) no cartório, que é ‘senhor do seu nariz’ e, bolas, tem livre-arbítrio, oportunidade de escolha, cabeça (como diria a minha avó) que foi feita para alguma coisa e, quanto mais não seja, pensem, questionem. Sejam sim ‘queixinhas’ mas porque querem mais e sempre melhor e não porque nunca nada está bem e porque os outros, os mandatários, os governantes, não fazem como vocês querem. Mas afinal, o que é que cada um de nós tem feito para mudar? Porquê mudar? Porque só mudando podemos sair deste ciclo vicioso de crise – parece que está tudo bem ‘bora’ lá esfolar o cartão de crédito e mandar vir mais umas prestações para cair no banco mensalmente – crise reconhecida. E eis que “a culpa é toda do Sócrates”. É sempre mais fácil dar como total responsável aquele que foi o último a dar a cara. Sim, ninguém é perfeito. E retire-se daqui qualquer simpatia política mas o que quero mesmo dizer é que somos todos responsáveis, sem excepção – e, quanto mais não fosse, só pelo facto de não medirmos as nossas opções diariamente, de não nos fazermos ‘à estrada’ a todo o momento, por nos lembrarmos de santa bárbara só quando chove, aliás, quando troveja mesmo. Vamos ao supermercado passear ou vamos porque precisamos mesmo, mas mesmo, de comprar leite? Trazemos o que está na lista ou somos aliciados por mega promoções que estão a decorrer (que na realidade, nos saem ao mesmo preço ou mais caras, se for preciso – e porquê? Porque às tantas nem precisamos daquilo que estamos a comprar). Compramos casa porquê? Endividamos a nossa vida, reduzimos o valor real do nosso rendimento mensal, temos a certeza que quando nascer o nosso primeiro bisneto a casa será oficialmente nossa e não do banco e ficamos ‘presos’ a qualquer oportunidade de mudar de poiso, dentro ou fora do país, se o destino assim o quisesse. Por outro lado, contribuímos para a existência de cada vez mais casas ao abandono que dão como desertas ruas inteiras de aldeias e cidades que, na verdade, são bem populosas mas vão-se esticando. Estas casas, além de se deteriorarem, e muito honestamente, dão mau aspecto, conferem tristeza às comunidades, retiram beleza ao conjunto habitacional que as rodeia. Restaurar o que já existe, para quem compra; e promover o arrendamento, para quem não se quer desfazer do património pessoal – e para isso são necessárias políticas de incentivo porque estão caros os materiais e o arrendamento traz muitas vezes ‘chatices’. Mas então vamos pensar nisto e até as políticas chegarem vamos fazer o que cada um deveria saber melhor – desenrascar, inventar, criar, ‘magicar’. As manchetes dos jornais, as aberturas das notícias na TV, as conversas ‘de café’, os ‘posts’ do Facebook – tudo se resume a meia dúzia de frases (que já são cliché) que cansam porque alimentam a inércia de quem espera por soluções para a sua própria vida. Isto ‘está mau’ sim mas sempre esteve mau. Nós temos potencial, capacidades, características inigualáveis no nosso país, sob o ponto de vista intelectual, paisagístico e de recursos naturais; temos história, de que nos devemos orgulhar e, com ela, património histórico edificado. Temos muito betão levantado, estradas abertas e shopping’s ‘para dar e vender’. Temos mar, serra, gastronomia, música, hospitalidade, pontos cosmopolitas de referência, comunidades interiores exemplares, festivais para todos os gostos e idades. Então o que nos falta? A mim parece-me que reconhecimento e coragem. Não há respostas imediatas, nem soluções milagrosas; acredito, contudo, que há uma mudança urgente – a de mentalidades, que tanto já se fala – e com ela um esforço individual de crescimento, que só assim potenciará o caminho colectivo. Como aqui há uns meses retive de um autor: ‘A melhor maneira de melhorar o padrão de vida está em melhorar o padrão de pensamento.’ (U.S. Andersen) Mónica Marques
Mudasti?!
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