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Adultos fazem provas de vida para serem certificados

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Recordações históricas, e sobretudo sociais, de uma infância difícil que não lhes proporcionou a oportunidade de estudar marcou a prova de RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências) de 16 adultos da zona da freguesia do Coto, nas Caldas da Rainha, que estão a concluir o processo, através do Centro Novas Oportunidades da associação Barafunda, […]
Adultos fazem provas de vida para serem certificados

Recordações históricas, e sobretudo sociais, de uma infância difícil que não lhes proporcionou a oportunidade de estudar marcou a prova de RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências) de 16 adultos da zona da freguesia do Coto, nas Caldas da Rainha, que estão a concluir o processo, através do Centro Novas Oportunidades da associação Barafunda, da Benedita. Estes alunos prestaram na passada quarta-feira, perante um júri, a prova final de RVCC de Nível Básico. Foi nas instalações da Areco que estes formandos, na faixa etária dos 30 aos 60 anos, defenderam os seus portefólios com relatos de uma vida cheia de saberes adquiridos ao longo da sua vida. Com a prova final, estes adultos em processo de atingirem o 9º ano (15) e o 6º ano (1) viram as suas várias experiências de vida reconhecidas e valorizadas. Esta certificação serve para validar e certificar aprendizagens adquiridas ao longo das experiências de vida, sendo um estímulo para o progresso pessoal, profissional e social destes cidadãos. Para a avaliadora externa dos Centros de Novas Oportunidades, Helena Liebermann, “este é sem dúvida, um exemplo de promoção da educação de adultos e de intervenção comunitária que merece um maior destaque e reconhecimento social”, acrescentando que “pretende contribuir para a valorização pessoal e social de uma camada populacional pouco escolarizada e que depois na prática tem histórias de vida e percursos de vida lindíssimos com valores importantíssimos”. Segundo a professora, muitas destas pessoas “não entram numa escola há 30 anos e agora com esta oportunidade são eles que sentem a necessidade de terem formação”. “Politicamente nunca houve uma aposta na valorização destes adultos, que são fruto de uma sociedade que nunca os quis valorizar”, defendendo os Centros de Novas Oportunidade que continuam a ser altamente contestado por pessoas “ignorantes que não estão por dentro do que são realmente estes cursos para adultos”. “Como é que pessoas com a quarta classe gerem secções inteiras de outros colegas trabalhadores quando nunca lhes foi dada, até agora, a oportunidade de paralelamente irem prosseguindo e valorizando aquilo que fazem na prática”, apontou esta docente. Helena Liebermann sublinhou ainda que este processo existe “graças à União Europeia, que obrigou o Governo Português em investir na formação”. O papel de avaliador externo dos Centros de Novas Oportunidades para além de verificar o rigor de cada processo, é sobretudo fazer que os adultos que por vezes deixaram de estudar há 20, 30 40 anos, por motivos económicos, sociais e culturais e políticos que vigoram no país, possam continuar a acreditar nas suas inúmeras capacidades, valores e méritos. Rita Mendes, profissional de RVCC da Barafunda, foi a coordenadora deste grupo de adultos da zona do Coto que fizeram o processo de certificação na Areco. “Nós trabalhamos em regime de itinerância, sempre que as associações ou juntas nos pedem para fazer o processo RVCC, nós deslocamo-nos”, explicou, satisfeita com o empenho e portefólios dos adultos. Marlene Sousa Legendas 1 – Processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, através do Centro Novas Oportunidades da Barafunda 2 – A prova final de RVCC de 16 adultos da zona do Coto Testemunhos: Maria de Rosário, de 53 anos, residente no Casal da Crocha Decidiu inscrever-se para concretizar um velho sonho. “Sempre quis estudar e nunca tive a oportunidade de o fazer”, disse, acrescentando que os pais eram pobres e teve de começar a trabalhar aos 9 anos na agricultura. Aos cinco anos já tinha a responsabilidade de tomar conta de uma irmã bebé e aos 10 anos foi servir para uma casa. Há 17 anos a trabalhar no Grupo Intermarché, na secção da peixaria, o seu portefólio relata passagens da sua vida, que, de uma maneira ou de outra, foram alimentando o seu conhecimento e a sua capacidade de querer sempre saber mais. Ricardo Lopes 54 anos, residente no Coto Estando desempregado e à procura de trabalho, verificou que era necessária formação e que todas as profissões exigiam algum conhecimento de informática. “Constatei que estava aqui a minha oportunidade para concluir o nono ano de escolaridade”, disse, acrescentando que “o querer estar sempre actualizado e adaptado às novas realidades é essencial no mundo de hoje e, para isso, temos que ter uma mente aberta e ter a capacidade de estar sempre pronto para aprender”. O seu portefólio descreve uma vida intensa marcada por um acidente rodoviário que o levou a um estado de coma. Começou a trabalhar aos 14 anos. Foi proprietário de uma oficina nas Trabalhias. Esteve a trabalhar na Suíça e em 1985 emigrou para o Canadá (Toronto), onde viveu durante quinze anos e trabalhou como porteiro de um prédio. “Fui para o Canadá com o objectivo de abrir as portas para os meus dois filhos e lá tomava conta de um prédio, fazia a manutenção e recebia as rendas”, explicou. Trabalha agora numa oficina de viaturas em Rio Maior, onde também recupera carros de corrida. “Agarrou” agora esta oportunidade, visto que sempre gostou de estudar e evoluir. Pedro Santos, 36 anos, residente na freguesia do Coto Decidiu tirar o nono ano através deste processo porque é uma valorização pessoal. “A nível profissional pode não significar muito mas a nível pessoal é muito importante para mim”, referiu, deixando uma palavra de apreço e de gratidão à equipa de formadores pelo profissionalismo, motivação e apoio demonstrados. “A minha vida dava um livro”, assim se intitula o seu portefólio, que contém a história da sua vida. Foi trabalhar aos 13 anos e neste momento é coveiro nos cemitérios de Alvorninha, Coto, Serra do Bouro, Foz do Arelho, Salir do Porto e Tornada. “Quando comecei a trabalhar, a profissão de coveiro era mal vista na sociedade e felizmente nos locais onde trabalho consegui mudar a imagem”, apontou. É uma pessoa realizada e agora com o nono ano ainda mais orgulho sente. A nível cultural também tem vários papéis que preenchem a sua vida. Dançou folclore durante muitos anos, com várias actuações no estrangeiro. É actualmente encenador do Rancho Folclórico da Areco, onde também faz parte da direcção da Associação. Já teve a sua participação na vida política como elemento da Assembleia de Freguesia do Coto. Tem uma paixão pela informática e desafia mesmo a Areco a desenvolver um curso na Associação. Tirar o décimo segundo ano não está fora de questão mas só depois da sua esposa, que está a concluir o processo. Com uma vida muito preenchida, acredita que “nunca é tarde para começar a realização dos sonhos”.

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