Esta semana, percorrendo a minha viagem sobre as ruas das Caldas da Rainha, irei debruçar a minha investigação sobre a rua “Heróis da Grande Guerra”. Numa pequena discrição irei tentar explicar “ O que foi a Primeira Guerra Mundial?”, de modo a que o leitor perceba o acontecimento, que para muitos Historiadores marca o inicio do século XX. A Europa encontrava-se, no inicio do século XX, no apogeu do seu poderio, dominando imensos territórios espalhados por todo o mundo. Todavia, o continente europeu era ele próprio uma região profundamente dividida, cheia de contrastes e de tensões políticas e sociais. A ocidente predominavam as democracias liberais, ou seja, regimes políticos parlamentares apoiados numa burguesia poderosa e influente. A Europa Central e Oriental permanecia dominada por regimes autoritários, nomeadamente, os Impérios Russo e Austro-Húngaro, que ocupavam vastas extensões territoriais, e o Império Alemão (o Reich). Todos eles continuavam a recusar a democracia liberal e os seus monarcas apoiavam-se sobretudo no exército e numa aristocracia de grandes proprietários. No entanto, mesmo nestas monarquias autoritárias, o processo de industrialização estava a gerar uma burguesia e um operariado activos que não cessavam de exigir uma maior participação na vida política. Tanto o imperador da Alemanha como o da Áustria – Hungria tiveram de ceder e permitir a criação de parlamentos eleitos, que dispunham, porém, de poderes muito limitados. Na Rússia, o imperador (o Czar) continuava ainda a governar através de um regime claramente absolutista. Por outro lado, desde a segunda metade do século XIX que se verificavam, na maioria dos países europeus, profundos antagonismos sociais, agudizados pela industrialização. A classe operária tornava-se assim cada vez mais numerosa e combativa. Esta situação favoreceu o aparecimento de partidos socialistas de influência marxista, que procuravam lutar contra o liberalismo e contra o sistema capitalista. Nesta Europa instável e dividida, acumulavam-se cada vez mais perigosas tensões entre as grandes potências, provocadas muitas vezes pela enorme rivalidade económica. A Inglaterra, sendo a principal potência industrial, surgia aos olhos da Alemanha como a “grande rival”. O enorme crescimento económico alemão verificado após a unificação do país (1871) desencadeou uma cerrada competição com a Inglaterra e a França pela posse dos melhores mercados, e pelo domínio de áreas ricas em matérias-primas, sobretudo na África e Ásia (Imperialismo Colonial). A Alemanha, cada vez mais forte económica e militarmente, e dispondo apenas de algumas colónias não muito ricas, obtidas recentemente em África, olhava com cobiça os vastos impérios colónias da França e da Inglaterra. Além da rivalidade económica e colonial, havia igualmente na Europa antagonismos políticos (muitas vezes ligados a disputas territoriais e a reivindicações nacionalistas), que a qualquer momento, poderiam degenerar num conflito militar grave. A França continuava a exigir a devolução da Alsácia e da Lorena, nomeadamente, as províncias francesas ocupadas pela Alemanha depois da guerra franco-prussiana de 1870-71. A Itália reclamava ao Império Austro-Húngaro as terras que este ocupava no norte da península Italiana. A Polónia, dividida pela Rússia, Áustria e Alemanha, pretendia tornar-se de novo um Estado autónomo. Outra das regiões de maior tensão política era a Península Balcânica, uma vez que a Rússia tinha o maior interesse nesta zona, essencialmente para ter acesso ao controlo do mar Mediterrâneo. Apoiava, por isso, os movimentos de independência dos povos balcânicos que tentavam libertar-se do domínio austríaco e do domínio turco. Por toda a parte germinavam, portanto, as sementes da guerra. Ao mesmo tempo, o nacionalismo crescia nos principais países europeus. A imprensa, a escola, e as canções populares, não só exaltavam o patriotismo e as virtudes nacionais, como incitavam ao ódio contra as potências consideradas inimigas. A opinião pública era assim preparada para a aceitação de um eventual conflito (“ Fiquei horrorizado, fiquei horrorizado do fundo do coração. Senti, de facto, quanto o envenenamento pela propaganda do ódio, prosseguida durante anos, tinha conseguido ganhar terreno”). As rivalidades entre os Estados europeus levaram à formação de alianças políticas e de blocos militares. A Alemanha aliou-se ao Império Austro-húngaro e à Itália, constituindo assim a Tríplice Aliança. Como resposta, a França aliou-se à Inglaterra e à Rússia, formando a Triple Entente (o triplo entendimento). Formaram-se, deste modo, dois poderosos blocos militares, que tinha sobretudo um carácter defensivo, ou seja, se um país de qualquer dos dois blocos fosse atacado, devia receber apoio dos seus aliados. A constituição dos dois blocos desencadeou uma corrida aos armamentos. Ninguém duvidava já que a guerra era inevitável, visto que se vivia apenas uma “Paz armada”, e que a qualquer momento, um pequeno incidente podia desencadear um conflito de dimensões incalculáveis. O incidente que serviria de «rastilho» à Primeira Guerra Mundial aconteceu em Julho de 1914, em que o arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono austríaco, foi assassinado em Sarajevo (na Bósnia) por um estudante nacionalista. A Áustria acusou os Sérvios de se encontrarem por detrás deste atentado e, com o apoio da Alemanha, declarou guerra à Sérvia. Sendo a Sérvia aliada da Rússia, este facto desencadeou todo o complexo sistema de alianças em vigor. Em pouco mais de duas semanas, a crise balcânica, transformou-se numa guerra generalizada, opondo a Tríplice Aliança à Triple Entente (mas o apoio de muitos outros países às duas alianças politicas, transformariam assim um conflito local num confronto à escala planetária). Após este incidente, a maioria dos países beligerantes acreditava que a guerra seria breve, visto que existia um clima de verdadeira euforia, só explicável pelo acto de a Europa não conhecer guerras havia quase 50 anos, e de se ignorar o alcance de novos e mortíferos armamentos. Os Alemães pensavam poder dominar a França em seis semanas, realizando movimentos ofensivos rápidos (Guerra de Movimentos). Invadiram a Bélgica (um pais neutral) e o norte da França, tentando alcançar Paris. Todavia, a ilusão de uma guerra curta desapareceu rapidamente, visto que em Novembro de 1914, uma vigorosa contra-ofensiva francesa deteve o avanço alemão. As forças da Entente e as Potencias Centrais (Império Alemão e Império Austro-Húngaro) passaram a enfrentar-se numa longa linha que ia do Mar do Norte à fronteira com a Suíça (era a frente ocidental). Na Rússia, isto é na frente oriental, os exércitos do czar foram sucessivamente derrotados pelos Alemães e obrigados a recuar. Na frente ocidental, à guerra de movimentos sucedeu a chamada “Guerra de Posições”. Procurando conservar as regiões ocupadas, as tropas de cada um dos lados em confronto escavavam uma extensa rede de valas e abrigos na terra – as trincheiras. A Guerra das Trincheiras, que se arrastou durante longos e penosos meses, foi de uma dureza indescritível: atolados na lama, os soldados morriam aos milhares, por acção da artilharia, do gás asfixiante ou das metralhadoras inimigas, no esforço de conquistar alguns metros de solo esburacado. Uma das saídas para o atoleiro das trincheiras residia na procura de novas armas. O armamento foi-se tornando cada vez mais mortífero. Apareceram canhões poderosos, grandes metralhadoras, granadas de mão, gases tóxicos, surgiram cada vez mais submarinos, tanques e aviões de combate. Entretanto, inúmeros países foram aderindo aos dois blocos em confronto. Do lado dos Aliados, chegou o apoio de Portugal, Japão, China, Brasil e muitos outros, enquanto as Potências Centrais contaram com o apoio do Império Turco e da Bulgária. Era, verdadeiramente, de uma Guerra Mundial que agora se tratava e não apenas de um conflito europeu. Em 1917, a guerra conheceu uma viragem decisiva. Embora a Rússia, sacudida pela revolução comunista, se tivesse retirado do conflito, a entrada dos EUA na guerra desequilibrou a balança a favor dos Aliados. Em Julho de 1918, os Aliados lançaram a sua ofensiva decisiva. Em Outubro, a Alemanha, progressivamente abandonada por todos os seus aliados, que foram pedindo a paz, solicitou o fim das hostilidades, para evitar a invasão do seu próprio território. Em 11 de Novembro de 1918 foi assinado o Armistício, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Porém, a Primeira Guerra Mundial teve consequências significativas. Para além das alterações geopolíticas e das importantes mudanças de carácter social, a Grande Guerra teve consequências demográficas e económicas profundas no mundo ocidental: Originou elevadíssimas perdas humanas, em especial na Europa, onde os países europeus tiveram cerca de 8 milhões de mortos e 6 milhões de inválidos. A Europa, principal teatro da guerra, foi também o continente mais severamente atingido por termos materiais: em algumas regiões ficou tudo em ruínas, e os solos esventrados e calcinados. As zonas onde se tinha estabelecido a frente ocidental ficaram praticamente desérticas. Os principais países envolvidos na guerra, em especial a Alemanha e a Áustria, ficaram com a produção e com os circuitos de distribuição de bens alimentares desorganizados. A procura de bens e de mercadorias excedia em muito a oferta, o que desencadeou uma inflação galopante. No final da Primeira Guerra Mundial, a Europa passou definitivamente para o segundo plano da economia mundial.
Rua dos Heróis da Grande Guerra
21 de Outubro, 2010
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