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Carta à Directora da ESAD

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Os seus comentários à Gazeta das Caldas, ao Jornal das Caldas e ao Jornal de Leiria mereceram a minha melhor atenção Deles depreendo que a Senhora Directora da ESAD CR não considera que existe motivo para polémica e que a minha exclusão é apenas um acto normal de gestão Acredito que sim e respeito a […]
Carta à Directora da ESAD

Os seus comentários à Gazeta das Caldas, ao Jornal das Caldas e ao Jornal de Leiria mereceram a minha melhor atenção Deles depreendo que a Senhora Directora da ESAD CR não considera que existe motivo para polémica e que a minha exclusão é apenas um acto normal de gestão Acredito que sim e respeito a sua opinião e a noção de democracia que invoca e o direito de expressão de todos os cidadãos Aqui lhe retribuo a atenção e invoco o direito de resposta para que seja publicada esta carta na sequência das suas palavras à imprensa A democracia também é isto: ouvir todas as partes envolvidas Ao afirmar que o Conselho Técnico e Científico da ESAD decidiu não renovar o meu contrato e cumpriu apenas a sua função devo então entender que a Sra. Directora está de acordo com o que foi decidido. Se assim é devo também entender que para a Sra. Directora da ESAD é um acto de gestão dispensar o património humano, o conhecimento acumulado pelo trabalho pedagógico ao longo de anos. Calculo que sabe que formar um aluno leva muitos anos, mas formar um professor leva ainda mais e em ambos os casos despende-se um enorme esforço financeiro e humano. Entende-se, também, que considera um acto de gestão razoável e compreensível dispensar o currículo artístico, científico e pedagógico de um artista e professor que não foi objecto de nenhuma reclamação interna, processo disciplinar ou administrativo enquanto docente. Surpreende-me que considere um acto de gestão não renovar um contrato de um docente que se encontra em formação avançada, em Doutoramento para ser mais concreto, a expensas do IPL. Surpreende-me ainda mais, que afirme que a Direcção propôs o professor ao Conselho Técnico e Científico, como é usual, por proposta das Comissões Científicas dos respectivos cursos e esta proposta seja recusada. Considerar isso um acto normal de gestão e não proceder a nenhuma averiguação sobre o facto é que parece mais uma vez surpreendente. É irrelevante, ainda, para a Sra. Directora, pelo facto de os actos de gestão estarem acima de qualquer dúvida: administrativa, moral, ética ou outra, pelo que se depreende das suas palavras e serem parte integrante da democracia, que o professor em questão tenha sido membro das equipes coordenadoras que deram corpo legal, administrativo, pedagógico, científico e artístico ao curso de Teatro ao longo de sete anos; foi o primeiro coordenador do mesmo; foi membro das comissões científicas da Licenciatura e do Mestrado desde sempre até à data da sua não renovação de contrato; sendo que desde Fevereiro de 2009 o fez em regime pro bono, de acordo mútuo com o anterior Presidente do IPL, Dr. Luciano de Almeida. O referido professor alvo deste acto de gestão foi ainda responsável pela elaboração de uma primeira reforma curricular do curso de Teatro, da acreditação do curso a Bolonha; foi responsável pela criação de um ciclo de estudos de Mestrado; foi responsável pelo desenho e aquisição das salas de trabalho do curso de Teatro bem de como todo o equipamento que neste momento o curso dispõe. É irrelevante para a Sra. Directora que a gestão do curso ao longo de sete anos deste professor tenha tido como consequência que os resultados nacionais da procura por parte de alunos do Curso de Teatro do iPL / ESAD CR em 2010 indiciem que o curso está nos 10 mais procurados dos 64 cursos do IPL, em 3º mais precisamente, e a nível nacional esteja entre os 100 primeiros, em 61º lugar mais precisamente, entre 1152 cursos existentes. Assim como parece ser irrelevante para a Sra. Directora que mais um professor se tenha demitido das suas funções na consequência desta situação e que esse professor seja a Coordenadora do Mestrado e membro da comissão científica da licenciatura. Foi apenas um professor é verdade, mas o facto é inclusivamente entendido como uma possibilidade de colocar em risco a própria continuidade no próprio artigo do Jornal de Leiria pois teme-se mais demissões. Compreendo que considere os actos de boa gestão acima de qualquer outro valor. Eu também considero o mesmo. Mas como pai que sou, como professor, como cidadão e artista considero que algo de profundamente preocupante indiciam estes actos de gestão. Os sinais que se estão a enviar para a sociedade onde estamos inseridos e para a qual devemos funcionar como exemplo e os sinais que se estão a dar aos alunos dos quais somos todos responsáveis são mensagens de que a dedicação, o trabalho continuado, a disciplina, a qualidade artística e científica é dispensável por um acto de gestão suportado por uma legalidade administrativa. Recordo, com frequência, nestes dias que têm passado desde a minha dispensa da ESAD, as palavras de Zygmunt Bauman ao comentar o concurso televisivo Big Brother: o concurso está feito de tal modo, ao afirmar-se como um reality show, que o princípio da exclusão, de alguém que tem de ser excluído de dentro da casa cada semana, é visto como uma lei natural da sociedade em que vivemos. Tem que ser assim e não há outra forma: todos num momento ou outro podemos por um qualquer conjunto de factores ser excluídos do meio onde vivemos e trabalhamos. Ao dar-lhe o selo de realidade, somos levados a pensar que não há outra forma de existência possível que a exclusão é um facto constituinte da nossa vida em sociedade. Não há lugar para todos e por isso há que excluir alguns fazendo alianças pontuais que servem os interesses circunstanciais do momento. Ao não discutir o princípio da exclusão estamos a desenvolver uma base de vida social na qual princípios como a lealdade, a solidariedade, a fraternidade e a segurança de todos são menos importantes do que cada um procurar salvar a sua pele. Contra tudo e contra todos. Ao se aproximar o fim de cada semana, ou de cada vez que alguém apresente uma debilidade ou possibilidade de ser excluído, os outros agirão de forma a excluí-lo sempre tendo em vista a sua preservação individual. Este caminho levará inevitavelmente a que cada um se torna mais selvagem em busca da sobrevivência. Todo o mundo viverá então com esse perigo mais longínquo ou mais próximo de ser o seguinte a ser excluído. Parece que este reality show retrata pertinência a fonte a partir da qual emana o medo contemporâneo das sociedades em que vivemos. O perigo de podermos ser excluídos e abandonados é algo que nos é terrivelmente próximo e familiar. E não por sermos nem fortes nem débeis, nem competentes ou incompetentes que a roda pode girar na nossa direcção. É uma ameaça indefinida e obscura com a qual temos de viver e suportar. Talvez isto explique o tão grande êxito de Big Brother segundo Bauman. Ora, como facilmente se percebe isso não é um valor que rime com democracia e humanidade. Muito menos com pedagogia, ciência ou arte. Ninguém é insubstituível e incluo-me nesse rol. Mas a mensagem que se está a passar é preocupante e merece reflexão. Cada um que faça a sua.   João Garcia Miguel

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