Da manifestação do passado domingo na Foz do Arelho, que juntou pouco mais de uma centena de pessoas, ficou a promessa de rumar a Lisboa se em Abril não houver dragagens na Lagoa e reposição do canal de ligação ao mar mais a sul. Numa acção convocada pela Assembleia Municipal (AM) das Caldas, todos os partidos políticos se uniram de uma forma mais ou menos unânime para defender a praia da Foz do Arelho e a Lagoa de Óbidos, mas a população que assistiu a esta reunião, que juntou autarcas de Caldas e de Óbidos, reclama mais acção e menos conversa. Como anfitrião e potenciador deste movimento, o presidente da AM, Luís Ribeiro, revelou o conteúdo de uma carta enviada pelo Instituto da Água (INAG), em que se compromete a “reposicionar a aberta (canal que liga a Lagoa ao mar)” mais a sul, por forma a “minimizar a erosão da margem norte e criar as condições atempadas para a formação de areal para uma prática balnear segura”. Mas a intervenção é considerada “insuficiente” pelo autarca das Caldas da Rainha, Fernando Costa, que alertou para o facto de que a retirada de 60 mil metros cúbicos de areia da Lagoa “não chegam para tapar as pedras e os sacos de areia” colocados na praia para proteger o emissário submarino que transporta esgotos para o mar, alegando que para essa acção “serão necessários cerca de 200 mil metros cúbicos de areia”. “Isto já lá não vai com paninhos quentes”, afirmou a deputada na Assembleia da República Maria da Conceição Pereira, que anunciou a intenção de “exigir a presença da ministra do Ambiente, Dulce Pássaro, numa comissão na Assembleia da República, para responder”. “Se não nos ouvirem a bem, vão ouvir-nos de outra forma”, acrescentou a deputada eleita pelo PSD, sintetizando o sentimento de todos os partidos, que defenderam a tomada de posições de força contra “a inércia do INAG”. Artur Correia, secretário da Junta de Freguesia da Foz do Arelho, deixou aos presentes o apelo de que “enviem cartas e emails ao INAG e ao Ministério do Ambiente”, exigindo soluções para a Lagoa de Óbidos, já que, quer a Junta de Freguesia, quer os autarcas das Caldas da Rainha e Óbidos, confessaram “impotência para lutar contra a teimosia do INAG”. “Não são só os autarcas que pedem obras, mas é a população que pede obras e acção ao ministério do Ambiente. É uma acção que deveria ter tomado. Se estamos aqui hoje a lutar contra este problema, é porque alguém no exercício das suas funções, foi preguiçoso e incompetente”, declarou. Também Telmo Faria, presidente da Câmara de Óbidos, disse desconfiar que “o INAG não está a fazer tudo o que o LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) propõe nas suas notas técnicas”. “Quero ler tudo o que o LNEC remete para o INAG”, afirmou apelando para que “toda a população não baixe os braços e ao mesmo tempo peça responsabilidades ao Ministério do Ambiente”. “Nós, sozinhos, não conseguimos que o Ministério do Ambiente nos oiça. Precisamos da voz de todos e da força de todos para lutarmos. Hoje é a margem norte na Foz do Arelho, amanhã será a margem sul no Bom Sucesso. Compete ao povo pedir responsabilidades a quem os governa”, apontou. As palavras de ordem mais ouvidas durante a manifestação foram “vamos para Lisboa”, mas, por sugestão de Fernando Costa, antes dessa medida, nova manifestação poderá realizar-se em Abril, na Foz do Arelho, se o INAG não iniciar a obra de reposicionamento da aberta. No passado dia 2 realizou-se uma reunião da Comissão de Acompanhamento da Lagoa, dois dias depois da Ministra do Ambiente ter visitado secretamente a Foz do Arelho. Ana Seixas, vice-presidente do INAG, confirmou que “o que vai ser feito em Abril é o reposicionamento da aberta” e que “o INAG não tem condições para fazer essa intervenção de dragagens” antes do final da época balnear, uma vez que “uma dragagem obriga a abertura de um concurso público”. A vice-presidente assegurou que a obra pretende “assegurar o mínimo de condições balneares” na praia da Foz do Arelho que, reconhece, “é a mais importante” da região. Mas a solução não convenceu os autarcas, que manifestaram “desilusão” e “descontentamento” pela metodologia adoptada. Na altura o presidente da Câmara das Caldas acusou o Instituto de “estar a fazer um jogo do empurra e a contrariar aquilo que a Ministra já tinha anunciado”. “Tínhamos como certo que iria haver em Abril/Maio uma intervenção para estabelecer a ligação da lagoa ao mar e, ao mesmo tempo, com as areias das dragagens seria reposta a praia, e o que hoje nos foi aqui transmitido foi precisamente o contrário”, afirmou Fernando Costa, no final da reunião da comissão de acompanhamento da lagoa. “A responsabilidade política é da ministra, porque prometeu que havia dragagens e reposição da praia, e aquilo que se está a assistir aqui hoje é que não vai haver nada disso e o ministério fica muito mal na fotografia”, sublinhou o autarca. Esta posição conta com a solidariedade do município de Óbidos, cujo presidente, Telmo Faria, desafiou Dulce Pássaro a “pôr ordem” no assunto e “pôr os seus institutos a trabalhar e fazerem dragagens como deve ser na lagoa”. Caso contrário, “vamos continuar com paliativos atrás de paliativos e a aumentar o descontentamento”, sublinhou. “Ninguém de bom senso, e que defende intervenções de gestão racional dos dinheiros públicos, pode ficar satisfeito com o que ouviu nesta reunião”, acrescentou. “Desilusão” foi também o sentimento manifestado pelo presidente da junta da Foz do Arelho, Fernando Horta, que apelou “à intervenção directa da ministra” para resolver a situação da praia, que a força das marés tem vindo a reduzir a apenas alguns metros de areal. O que diz o povo presente na manifestação: “Isto é uma coisa da natureza e nada mais. Já vejo máquinas mas acho que a natureza apresenta-nos situações em que não vale a pena. Vim só ver isto porque me disseram que a praia estava a desaparecer. Acho que vai ser muito difícil repor a praia”. João Albino, de Rio Maior “Acho que esta manifestação não vai fazer nada. Isto já está tão adiantado e tão deteriorado”. Maria Silva, de Rio Maior “Deviam todos de abrir a aberta mais a sul. Os governantes só querem é tachos. Estou solidária com as pessoas da manifestação”. Emília Rosa, das Caldas “Acho que a manifestação e a intervenção já deveriam ter sido feitas há mais tempo. É uma tristeza que uma das maiores Lagoas da Europa esteja neste mísero estado. Lamento que não tenha vindo à manifestação um representante do Estado. Esteve cá a ministra de fugida. Acho que deveriam estar mais pessoas nesta manifestação”. Luís Dias, das Caldas “As pessoas todas que estão na manifestação deveriam de agarrar nas pás que tenho carregadas no meu camião e começarem a abrir a aberta lá mais a sul e taparem estas. Antigamente era assim que se fazia. Andam aí as máquinas só a limpar o dinheiro às associações. Eles deveriam de tapar aqui e abrir lá mais em baixo”. João Valongo, da Serra do Bouro “Temos aqui uma situação da natureza. A natureza revolta-se sobre uma série de coisas que nós homens somos os causadores. Estamos todos preocupados com a questão da Lagoa, com a aberta mais aqui ou ali, quando anteriormente a Lagoa ia até ao palacete. Os responsáveis políticos não se preocupam com as arribas. Aquilo que aconteceu na Madeira está sujeito a acontecer aqui e depois de quem é a culpa. Acho que as pessoas não se devem preocupar apenas com fenómenos naturais mas também com a mão do homem que está a desgraçar tudo o que aqui se passa. Aqui é possível construir nas arribas, mas na Serra do Bouro nós não podemos construir casas para os nossos filhos por causa do PDM, quando os terrenos nem sequer são cultivados. Mas estamos solidários com estas pessoas”. Idalina Duarte, da Serra do Bouro “Viemos em passeio e não sabíamos que havia uma manifestação. Há muito tempo que não visitávamos a Foz do Arelho e não sabíamos que estava assim. Acho bem que lutem pela preservação da praia e da Lagoa”. João Dias, de Lisboa “As pessoas têm razão, mas é um problema de difícil resolução. Lembro-me do mar passar aqui rente, mas acho que devem procurar resolver isto”. José Marques, de Alfeizerão “É uma situação triste ver assim a Foz do Arelho. Desde pequenina que frequento a Foz e já vi a aberta mais a sul e mais a norte, mas nunca como está agora. É a primeira vez que vejo isto assim. Assim está perigoso. Espero que a manifestação traga alguma coisa de bom”. António Santos, do Cadaval “Acho importante esta manifestação. Somos de Lisboa e apostamos viver nesta zona há uns meses. Uma das razões da mudança foi a Lagoa de Óbidos e a Foz do Arelho. Mudámos a nossa vida e agora custa-nos muito sentir que aquilo que nós apostamos se perdeu de alguma forma. Tenho dúvidas de que as coisas se resolvam assim tão rápido como gostaríamos, mas estamos solidários com a população caldense e obidense. Esperava mais gente na manifestação. É a primeira, mas agora espero que se tomem mais medidas com maior força no sentido de resolver este problema”. Paulo Valente, da Foz do Arelho “Acho que as pessoas se devem manifestar ainda mais”. Maria Silva, de Tornada “Tenho acompanhado este processo. Acho muito bem esta manifestação e gostei desta discussão no espaço público para as pessoas participarem e saberem o que se está a fazer. É uma forma de motivar as pessoas. É preciso não deixar os políticos a resolver os problemas. Tem mais força a população unida do que os políticos e as pessoas esquecem-se disso”. João Cascão, das Gaeiras “Esclarecidos e preocupados. Agora é preciso ser feita a intervenção por parte da Ministra do Ambiente. Eles estão lá ganhar o dinheiro dos nossos impostos e não fazem nada. Estão nos gabinetes a ganhar bons ordenados todos os meses e não se preocupam com nada porque tem lá o ar condicionado”. Leonel Bernardino, das Caldas Carlos Barroso
Manifestação na Foz do Arelho com recados ao Governo

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