Três estudantes universitários de Peniche quiseram ver de perto as ondas numa noite de tempestade, mas a atracção pelo mar saiu-lhes caro. Na madrugada do passado dia 23 uma vaga mais forte projectou-os contra as rochas, nas arribas do Cabo Carvoeiro. Dois deles, apesar de feridos, ainda conseguiram voltar ao topo da falésia. O outro foi engolido pela maré. Foi na Lage dos Pargos, um pesqueiro junto ao farol, que foram surpreendidos pelas ondas. “É normal as pessoas irem para este sítio ver o mar”, apontou João Gonçalo, amigo dos estudantes, que não tem dúvidas: “Não esperavam que estivesse tão agitado e só foi isso que provocou o acidente, porque eles têm experiência de mergulho”. Partilhavam a mesma casa e era grande a amizade entre os três alunos da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar de Peniche (ESTM), localizada a um quilómetro do local do acidente. Depois da meia-noite resolveram ir de carro até à ponta do Cabo Carvoeiro. Desceram a escada habitualmente frequentada por pescadores e turistas. “Não deviam ter prosseguido, porque o mar não estava para brincadeiras”, manifestou Paulo Gervásio, conhecedor das ratoeiras do local. A aventura acabou cerca das duas e meia da manhã, quando foram colhidos pela forte ondulação. Luís Filipe Santo Vala, de 22 anos, de Porto de Mós, a frequentar o mestrado de biotecnologia e recursos marinhos, caiu ao mar. Nuno Costa, de 24 anos, de Alcobaça, e Diogo Reis, de 21 anos, de Abrantes, ambos alunos do 3º ano de biologia marinha e biotecnologia, foram projectados contra a parede rochosa. O mais velho ficou ferido na cabeça e começou a sangrar, mas os dois evitaram serem puxados para dentro de água. Chegaram até ao carro, que não conseguiram abrir porque as chaves estavam com o Luís. Ensanguentado, Nuno caminhou um quilómetro com Diogo até à casa de um colega, que os transportou ao hospital de Peniche. Nuno sofreu um traumatismo craniano e foi observado no Hospital de Santa Maria, regressando ao hospital das Caldas da Rainha. Diogo apresentava princípio de hipotermia e estava em estado de choque. Teve alta do hospital de Peniche no próprio dia. As buscas para encontrar o universitário desaparecido mobilizaram dois helicópteros da Força Aérea e da Protecção Civil, e a corveta António Enes, da Marinha. Em terra agentes da Polícia Marítima e do Instituto de Socorros a Náufragos bem como uma equipa de resgate em grande ângulo dos bombeiros de Peniche pesquisaram a área. O cadáver seria encontrado na manhã de 24 de Fevereiro, junto à costa de Peniche, na marginal sul. O corpo estava irreconhecível e foi transportado para o Gabinete Médico Legal de Torres Vedras para ser identificado e realizada a autópsia. O corpo foi descoberto cerca das nove da manhã por uma equipa do Instituto de Socorros a Náufragos que andava a patrulhar a zona de motoquatro. Estava preso nas rochas da falésia, no Carreiro do Inferno, a caminho da Furninha, um miradouro e pesqueiro a um quilómetro da Lage dos Pargos, onde o jovem tinha desaparecido. Os bombeiros de Peniche resgataram o cadáver, que segundo o comandante do porto, Patrocínio Tomás, “não foi possível reconhecer no local”. “Foram feitas perícias para obter a identificação”, declarou, admitindo a grande probabilidade de se tratar do corpo de Luís Vala. “Os indícios apontavam nesse sentido devido à proximidade do local do acidente”, revelou. Na ESTM de Peniche, a directora,Teresa Mouga, desabafava que “estamos à espera [da confirmação da morte do aluno]. É a parte mais difícil neste momento. As expectativas não são as melhores”. E familiares de Luís Vala confirmaram que o cadáver era o estudante. Os alunos da ESTM ficaram abalados com o incidente e por isso a direcção do estabelecimento de ensino decidiu suspender as aulas e adiar os exames do mestrado frequentado pelo jovem falecido, assim como da licenciatura que andam a tirar os outros dois colegas que acompanhavam Luís Vala. “Não havia condições psicológicas, porque os alunos estão muito perturbados com o que aconteceu”, disse Teresa Mouga. “É um acidente que tem a ver com a curiosidade própria de alunos de biologia marinha. Foram passear e ver o mar num dia de tempestade. Foi uma actividade que correu muito mal”, lamentou. “Mas é recorrente este acidente. Acontece todos os anos com pescadores ou com turistas. É um sítio bonito mas perigoso”, alertou. Sobre o jovem desaparecido, indicou ser “um aluno muito motivado e que sobressaía em relação aos colegas”. “Estamos todos bastante consternados”, revelou. Em comunicado dirigido à comunidade académica, a direcção afirmou o seu “profundo pesar e consternação”. A associação de estudantes remeteu-se ao silêncio, mas na Internet são diversas as mensagens publicadas por amigos e colegas do jovem que morreu. “O mar reclama mais uma vida, perdeu-se um grande homem, mas mais que tudo um grande amigo”, manifestou Tiago Bento. A direcção da ESTM disponibilizou apoio psicológico à comunidade escolar e à família do estudante desaparecido, que foi também acompanhada por psicólogos do Instituto Nacional de Emergência Médica. Investigadores da Polícia Judiciária estiveram no local a recolher provas, nomeadamente o sangue no Audi propriedade do desaparecido, para definir melhor os contornos do acidente. Pedro Oliveira, amigo dos três estudantes, abriu-lhes as portas do seu centro de mergulho Haliotis, onde Luís e Nuno fizeram um estágio de três meses durante o Verão passado, que lhes conferiu o certificado do primeiro nível profissional de mergulho. Diogo ia fazer o mesmo percurso no final deste ano lectivo. “Tenho por eles uma grande estima. São pessoas aplicadas e que adquiriram os conhecimentos necessários à actividade de guia de mergulho. Estão habituados a lidar com o mar”, manifestou. Mas foi o mesmo fascínio pelo mar que os traiu. O sócio-gerente do centro sublinhou que as ondas “são cíclicas e de sete em sete há uma maior. Devem ter sido apanhados por essa onda, que pode ter atingido os oito ou mais metros de altura”. “A confusão do momento deixou-os sem reacção, porque podiam ter pedido ajuda ao faroleiro, mas não se lembraram disso”, referiu. Francisco Gomes
Estudantes quiseram ver o mar de perto e um deles foi levado pelas ondas

Últimas
Artigos Relacionados
Morte de diabético no hospital levanta dúvidas à família
A família de um homem de 44 anos, de nacionalidade brasileira, que morreu no hospital das Caldas da Rainha a 27 de janeiro, suspeita de negligência médica, depois de lhe terem sido administrados medicamentos e injeções que alegadamente seriam incompatíveis com o problema da diabetes que sofria. O resultado da autópsia é aguardado pela administração hospitalar, que sustenta não ter havido má prática, e entretanto decorre uma campanha de angariação de fundos para transladar o corpo para o Brasil.
Colisão entre dois carros na Foz do Arelho provocou quatro feridos
Uma colisão entre dois carros na estrada nova entre Caldas da Rainha e Foz do Arelho, antes da rotunda da antiga discoteca Green Hill, provocou na manhã desta quarta-feira quatro feridos ligeiros.
Caldas da Rainha vai apostar na consolidação e afirmação da sua identidade
Está a ser desenvolvida pela consultora CH Group, para o município das Caldas da Rainha, um estudo de posicionamento estratégico e um plano de ação para a valorização da marca Caldas da Rainha.
0 Comentários