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A Festa da Padroeira

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Era o dia da festa da padroeira da aldeia. Muito cedo os sinos repicaram, enquanto uma ruidosa salva de foguetes acordava o pessoal da aldeia e arredores. O sol primaveril, de uma manhã de Maio, despontou risonho no horizonte, inundado de luz os telhados da aldeia, ao mesmo tempo que ia penetrando nas ruas estreitas […]

Era o dia da festa da padroeira da aldeia. Muito cedo os sinos repicaram, enquanto uma ruidosa salva de foguetes acordava o pessoal da aldeia e arredores. O sol primaveril, de uma manhã de Maio, despontou risonho no horizonte, inundado de luz os telhados da aldeia, ao mesmo tempo que ia penetrando nas ruas estreitas e incidindo nas flores que ornamentavam as janelas e varandas. As flores, abrindo as suas pétalas, parecia que trocavam carícias com o astro rei. A meio da manhã chegou a fanfarra, percorrendo as ruas e tocando as marchas que o povo conhece e gosta. À frente, o homem dos foguetes que de vez em quando ateava um rastilho e lançava mais um morteiro que estourava nos céus da aldeia. Atrás dos músicos a pequenada, saltando e brincando, e apanhando as canas que caíam por perto. Mas o ponto alto da festa era a cerimónia em honra da santa em que o povo crê. O pregador fala dos milagres desta imagem. Apela à penitência, ao sacrifício e ao contributo monetário dos fiéis. Vai subindo de tom, recorre a expressões dramáticas e dos olhos dos crentes mais sensíveis escorrem as lágrimas. A imagem muito antiga da padroeira, sendo visível uma restauração imperfeita, vestida com trajes bordados à mão, um longo manto e na cabeça uma coroa de ouro. Do manto pendiam várias fitas de seda, que prejudicavam o aspecto agradável produzido pelo arranjo floral do respectivo andor. Estas fitas são parte importante da festa, pois são ali colocadas para que os crentes possam, ostensivamente, afixar notas de banco que tanto podem ser o cumprimento de promessas como um acto de agradecimento e também simples ostentação de riqueza. Depois da missa e do sermão, com várias referências aos incontestáveis mas nunca comprovados milagres e à história mística da aparição da imagem, naquele local, que dista da aldeia cerca de 3 quilómetros, o orador faz também questão de frisar a imposição desta mesma imagem, aquando da referida aparição, para que lhe construíssem ali uma capela, deu-se início à procissão. À frente iam as criancinhas vestidas de anjos. Algumas delas ao pisar os vestidos, caíam, levantavam-se e lá continuavam. A mais pequenita, vestida de Rainha Santa Isabel, ao cair, deitou fora as rosas que transportava no regaço e correu chorando, para o colo da mãe. Depois vinha a imagem da padroeira com as suas fitas de seda, cobertas de notas esvoaçando ao vento. A seguir os padres, que eram sete, e finalmente a banda, com as pautas fixas nos instrumentos, tocando e desafinando mas sempre a compasso. A procissão termina com imagem entrando na capela, de frente para a assistência, enquanto os fiéis acenavam com os seus lenços brancos. A tudo isto assistiu, pela primeira vez, o Francisco. Uma criança de 5 anos que insistia em perguntar à mãe quem era aquela senhora que tinha tanto dinheiro, pisava as rosas e andava aos ombros homens. A mãe prometeu-lhe então que depois do jantar lhe contava a história daquela senhora. Mas tal não foi possível porque o Francisco, mal acabou a refeição, caiu no sono, cansado que estava do longo dia da festa da padroeira. O Francisco adormeceu e sonhou. No seu sonho viu a senhora rica, já sem fitas de seda cheias de notas. Já não pisava as rosas, nem era transportada aos ombros dos homens. A pouco e pouco, a senhora que estava agora num areal, junto de um ribeiro, foi-se desintegrando, ficando reduzida a uma tábua sem forma definida. No dia seguinte, a mãe do Francisco esperava a cada momento pela pergunta: – Quem é a senhora rica? Mas a criança não o fez. Preferiu calar-se, guardando só para si aquele sonho. Os dias iam passando e duas coisas povoavam os pensamentos do pequeno Francisco: A festa da padroeira e o sonho misterioso. – Que relação poderia haver entre uma coisas e outra? – Interrogava-se em silêncio. Um dia, o pai chamou o carpinteiro para substituir algumas tábuas velhas da porta do sótão. O Francisco olhou fixamente para as tábuas que o carpinteiro trouxera, e por momentos, pareceu-lhe ver a tábua do sonho. Em voz muito baixa, perguntou ao homem: – As tábuas só servem para fazer portas? Não – Respondeu o carpinteiro – a madeira tem tantas aplicações que até serve para fazer Santos. – E também senhoras ricas, como a padroeira cá da aldeia? – Essa não sei se é de madeira, creio que é de pedra. – É de madeira é -Atalhou o Francisco, alterando o tom de voz, sem se ter dado conta. – Como sabes? – Perguntou o carpinteiro, acariciando o rosto do pequeno. O Francisco corou por momentos. Olhou para o carpinteiro, depois para as tábuas e remeteu-se ao silêncio. Telmo Locutor da Rádio Benedita FM

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