Q

Previsão do tempo

11° C
  • Monday 13° C
  • Tuesday 16° C
  • Wednesday 17° C
12° C
  • Monday 13° C
  • Tuesday 17° C
  • Wednesday 17° C
12° C
  • Monday 14° C
  • Tuesday 18° C
  • Wednesday 18° C

José António e a Guerra no Ultramar

EXCLUSIVO

ASSINE JÁ
“Fiquei logo vacinado contra o pacifismo” O comandante dos bombeiros voluntários das Caldas da Rainha e responsável da Protecção Civil local, José António, cumpriu o serviço militar em Moçambique entre Março de 1972 e Novembro de 1972, e entre Setembro de 1973 e Dezembro de 1974. Dos tempos de guerra nas colónias trouxe muitas histórias. […]
José António e a Guerra no Ultramar

“Fiquei logo vacinado contra o pacifismo” O comandante dos bombeiros voluntários das Caldas da Rainha e responsável da Protecção Civil local, José António, cumpriu o serviço militar em Moçambique entre Março de 1972 e Novembro de 1972, e entre Setembro de 1973 e Dezembro de 1974. Dos tempos de guerra nas colónias trouxe muitas histórias. ”Não tinha o mínimo conhecimento do que era a guerra, mas fiquei logo a saber quando cheguei a Moçambique. Nos primeiros dias tive o baptismo de fogo. Fiquei logo vacinado contra o pacifismo”, conta. José António tem 59 anos e é natural de Rio Maior. Concluiu a escola primária e aos 11 anos começou a ajudar na Cerâmica Marcolino Ferreira, como desbarbador de telha. Aos 14 anos passou a tractorista e permaneceu na empresa até ingressar na vida militar, aos 19 anos. Com o dinheiro que ganhou na tropa comprou um camião e trabalhou por conta própria como fornecedor de materiais de construção. Há 15 anos tornou-se gerente da Casa de Repouso Cantinho dos Avós, em Vidais, nas Caldas da Rainha. Foi presidente de Junta de Freguesia de Vidais entre 1986 e 1998, e adjunto do presidente da Câmara das Caldas da Rainha entre 1999 e 2009. Desde Outubro do ano passado é administrador dos Serviços Municipalizados das Caldas da Rainha. É casado, tem dois filhos, de 27 e 31 anos. Não tem netos. Vive em Ribeira de Crastos, nas Caldas da Rainha. Ingressou de forma voluntária na Força Aérea. “Toda a gente ia à tropa e uma das formas de me livrar de ir para o meio do mato era entrar na Marinha ou na Força Aérea”, explica. Fez o curso de mecânico de material aéreo (MMA) na BA2, na Ota, entre Junho de 1970 e Maio de 1971. Foi destacado para a BA3, em Tancos, como 1º cabo especialista em helicópteros (Alouette III). A 2 Março de 1972 foi mobilizado para Moçambique. Na Beira ficou a aguardar para onde seria destacado, mas logo na primeira noite teve de queimar o colchão da camarata, porque estava cheio de piolhos. “Fiquei todo picado”, recorda. Enviaram-no para a BA5, em Nacala, onde estavam os aviões (os bombardeiros T6, os Dorniers e os Fiats) e depois para o Aeródromo Militar (AM) 52 em Nampula, onde estavam os helicópteros. “Fazíamos rendições individuais e o único colega de curso que foi comigo foi o 1º cabo Mota, que ficou na ferramentaria e eu fui para a linha da frente, para o destacamento de Mueda, no AM51. Era o pior sítio. Havia um painel pintado com uma caveira enorme e que dizia: “Benvindos a Mueda. Nesta terra trabalha-se, luta-se e morre-se”. Toda a gente tirava fotografias ali”, descreve. A 13 de Março participou na primeira operação, que consistia no transporte de helicóptero de tropas do Exército para o ataque a uma base da Frelimo, no planalto dos Macondes, em Mueda. José António era mecânico dos helicópteros Alouette III, onde seguiam, para além do piloto, mais cinco militares. Nas operações ia sempre um grupo de seis helicópteros. “Aproximávamo-nos do solo mas não chegávamos a pousar. Os militares saíam do aparelho e nós voltávamos ao aeródromo e mais tarde íamos buscá-los. Normalmente tínhamos a cobertura de dois T6 e de um héli-canhão, que disparava uma bala de 20 milímetros com poder perfurante, derrubante e explosivo”, relata. “O meu helicóptero, pilotado pelo alferes Francês, foi atacado com uma série de tiros, que cortaram o veio de transmissão traseiro. Como estávamos a um metro do solo, fizemos uma aterragem forçada e saímos para junto das nossas tropas, que nos fizeram protecção e outro helicóptero foi buscar-nos. Seis balas ficaram alojadas no aparelho. Felizmente ninguém ficou ferido. Essa operação acabou por render bem em armamento apreendido, o que quer dizer que estávamos perto de uma base da guerrilha”, indica José António. “No mesmo dia regressámos ao local para reparar o veio de transmissão e levar o helicóptero de volta. Foi uma boa lição porque quem estivesse com medo, naquela altura perdeu-o. Deixei de ser maçarico”, manifesta. Noutra operação semelhante, o helicóptero onde seguia levou 26 balas mas por milagre não aconteceu nada a ninguém. “O furriel Neto era o piloto e dizia pelo rádio: “Estamos a ser abonados”. Quando éramos alvejados dizíamos que estávamos a ser abonados e quando chegássemos à base tínhamos de pagar uma cerveja a quem lá estivesse. Levávamos tiros e ainda pagávamos. Era uma forma de retribuir a dádiva de termos ficado vivos”, lembra. A primeira comissão foi interrompida em Novembro de 1972. Veio para a metrópole frequentar o curso de sargentos milicianos, na Ota. Regressou como sargento a Moçambique em Setembro de 1973 e ao AM51, que teve vários comandantes, como o major Costa Joaquim, que chegou a Chefe de Estado-Maior da Força Aérea, e os capitães Castelo, Estevinho, Queiroga, Brogueira e Luís Araújo, que é o actual Chefe de Estado-Maior da Força Aérea. Era uma escala rotativa. “O capitão Castelo era uma pessoa de trato exemplar. Ninguém se intimidava por estar na presença dele. Toda a gente o respeitava”, sustenta José António. Em Fevereiro de 1974, o capitão Castelo morreu numa operação em que “tínhamos largado as tropas todas e já íamos a caminho da unidade, quando fomos atingidos por uma rajada de balas”. Quem ia com ele era o segundo sargento Vaz de Carvalho, atirador de héli-canhão, que tinha levado dois tiros nas nádegas cerca de um mês antes, noutra intervenção semelhante na mesma zona. Vaz de Carvalho foi enviado para o hospital militar de Nampula para ser tratado. Ainda estava em convalescença mas quando soube que havia aquela operação meteu-se num avião e foi ter com os camaradas. E no momento de avançar, retirou o homem que o estava a substituir e foi ele próprio. “O segundo sargento e o capitão devem-se ter empolgado e foram para a zona onde anteriormente tinham sido atacados”, refere José António. E foram novamente atingidos.

(0)
Comentários
.

0 Comentários

Deixe um comentário

Últimas

Artigos Relacionados

Bombeiros caldenses responderam a 112 ocorrências

A depressão Martinho causou danos significativos no concelho das Caldas da Rainha entre as nove horas da manhã de dia 19 e as oito da noite de dia 22, com os bombeiros a responderem a 112 ocorrências, que envolveram 455 operacionais e 130 veículos, ao longo de 113 horas de “muito trabalho em circunstâncias bem difíceis, para ajudar os caldenses e garantir a sua segurança”, transmitiu o comandante da corporação caldense, Nelson Cruz.

vidais2novo

Encerramento de espaços na Serra de Montejunto

Na sequência dos danos provocados pela depressão Martinho, a Real Fábrica do Gelo, o Parque das Merendas, o Centro de Interpretação Ambiental, o bar e o Parque de Campismo na Serra de Montejunto, no Cadaval, encontram-se encerrados por não reunirem as condições de segurança necessárias.

montejunto