É à noite, quando a biblioteca está em silêncio, que eles descem, sorrateiros, das estantes. Brincam, conversam e lêem os homens. O mundo clandestino dos livros revela-se no Museu José Malhoa, nas Caldas da Rainha, com o espectáculo “Uma Noite na Biblioteca”, uma produção do Teatro da Rainha. Alguns estão anos a fio sem saírem da estante; outros vivem constantemente entre os dedos de quem os lê. Mas, e se pudessem falar e fossem eles a ler-nos? Que histórias nos contariam os livros sobre nós próprios? O secreto mundo da leitura inspira o espectáculo “Uma Noite na Biblioteca”, que o Teatro da Rainha apresenta nos dias 17, 18 e 19 de Dezembro, às 21h30, no Museu José Malhoa. Com encenação de Luís Varela sobre texto do dramaturgo Jean-Christophe Bailly, “Uma Noite na Biblioteca” coloca os espectadores “perante um passe de mágica cénica irrecusável: assistir ao mistério absolutamente improvável, posto em cena, de uma recriação ‘animista’ num santuário de livros – eles ganham vida e timbre, singularidades”, revela o director do Teatro da Rainha, Fernando Mora Ramos. O espectáculo conduz o público ao “reino de uma fantasia conspirativa”: quatro livros narram as histórias de uma vida passada na estante ou entre as mãos dos seus leitores. “Conversam sobre há quanto tempo não são manuseados, do desejo de sê-lo, de quem o fez amorosamente, e de como são os estranhos habitantes de uma biblioteca”, avança Fernando Mora Ramos. Bertoli, Alegoria, Ragionello e Fantolin são as quatro personagens improváveis de “Uma Noite na Biblioteca”. “As figuras da ficção tornam-se actores que, na biblioteca, as assumem como personificáveis entidades problemáticas – habitam a biblioteca como a sua casa, o seu bairro, cantos conhecidos, habitam no profundo sentido de habitar, fazer parte de, ser vizinho de – e falam aos humanos que ali estão do seu drama individual, embora ignorando-os na relação directa”, explica Fernando Mora Ramos. Para o director do Teatro da Rainha, realizar um projecto com estas características é “trazer a ficção para o coração do espaço em que se lê e trabalha sobre o que se lê, a biblioteca, o outro parente obrigatório desta aventura: uma arquitectura, um rosto físico interior, paredes, livros expostos, mesas, cadeiras e essa condição obrigatória da concentração que é o silêncio, a mais ilustre das paisagens, a que faz do tempo uma presença semelhante ao bater do coração, esse relógio biológico que nos põe em comum com a natureza”. E o sentido maior do texto, explica Mora Ramos, talvez seja “fazer florir qualquer coisa dentro dos ouvintes leitores, uma alteração da paisagem interior que, sendo uma sensação de enriquecimento pessoal, possa servir nas mais diversas situações de vida, como resposta provável, como ajuda, como entendimento de uma complexidade, como pura fruição. Não será a fruição a própria vida mais que um seu sinónimo?”. “Uma Noite na Biblioteca” conta com a interpretação de Isabel Lopes, José Carlos Faria, Victor Santos e Miguel Araújo. O espectáculo foi apresentado pela primeira vez ao público caldense na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, no âmbito de uma parceria estabelecida com o Teatro da Rainha. A estreia oficial foi em Março, no Salão Nobre da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra – Sala de São Pedro. O preço dos bilhetes é de 7,5 euros, com descontos de 50 por cento para adultos com mais de 65 anos, estudantes e titulares de cartão jovem.