A colecção de poemas priápicos mais extensa e mais interessante é sem dúvida o chamado Corpus Priapeorum, disse Carlos de Miguel Mora, doutorado em Filologia Clássica e conceituado investigador de poética erótica latina na Universidade de Aveiro, que falava na palestra “O Carácter Erótico-Burlesco de Príapo”, que decorreu no CCC no passado dia 31, no âmbito das iniciativas da 1ª Mostra Erótica-Paródica das Caldas da Rainha – Terra das Malandrices, organizada pela Confraria do Príapo. Segundo o investigador, a colecção de poemas priápicos mais extensa e mais interessante é sem dúvida o chamado Corpus Priapeorum, que parece ter sido escrito em finais de século I ou inicio do século II Depois de Cristo. “Recebe este nome um conjunto de oitenta epigramas breves que se enquadram perfeitamente na definição restrita que demos para os priapea, pois neles o deus Priapo é sempre a temática principal e o tom é constantemente galhofeiro, com um humor sexual que, mais do que erótico, pode ser considerado pornográfico”, apontou. Nesta palestra foram apresentadas várias traduções de epigramas do Corpus Priapeorum, que de acordo com o professor “foi mais um contributo para a constatação de uma realidade que numerosas histórias da literatura latina parecem ignorar, a de que o autor dos priapea, fosse ele quem fosse, possuía um talento poético fora do comum e uma erudição tais que lhe permitiam usar jogos de palavras excepcionalmente hábeis, e ao mesmo tempo elevar a dignidade literária dos poemas pelos recursos infinitos neles aplicados”. Priapo é o deus grego da fertilidade, filho de Dionísio e Afrodite. “Sua imagem é apresentada como um homem idoso, mostrando um grande órgão genital (erecto)”, disse Carlos de Miguel Mora, acrescentando que “Priapo era considerado como protector de rebanhos, produtos hortícolas, uvas e abelhas”. De acordo com o orador, o deus Priapo apresenta duas características fundamentais que o identificam. “A primeira delas é o seu carácter agrário e a segunda das suas características era o seu carácter itifálico, com certeza produto da adjunção, a um primitivo falo apotropaico, de um corpo de menor tamanho”. “O aspecto grotesco que esta união provocava fazia dele o deus da sexualidade mais frontal e directa, por oposição à sensualidade de Vénus e Cupido, e dava azo a uma consideração pouco “séria” dos seus atributos e atribuições”, acrescentou, referindo que “isto explica que, com frequência, os passos literários em que o deus é mencionado façam parte da denominada literatura satírica, paródica ou simplesmente humorística”. A conclusão da sua intervenção é que o “humor e a obscenidade estão ligados”. “Se fosse retirada a parte do humor, ficaria uma parte de obscenidade que não produzia o efeito desejado”, sublinhou o investigador. “Para querer um efeito de choque que era o objectivo, essa obscenidade devia estar num texto elevado, e ao mesmo tempo tinha que haver humor. O que quis mostrar aqui é que o carácter de Príapo é um carácter erótico e burlesco, erotismo mas sempre ligado o humor”, adiantou. O investigador de poesia erótica latina referiu que o mais importante dos poemas é a sua qualidade que “foi negligenciada durante séculos por causa da temática”. “Foram catalogadas como poesia baixa, por causa do tema, mas quando analisado sem preconceitos, apenas pelas suas qualidades literárias, vê-se que são poemas de uma altura literária realmente muito elevada”, adiantou. Segundo o orador, a poesia erótica sempre existiu e marcou toda a literatura. Falou das semelhanças “extraordinárias” entre a poesia erótica latina e a poesia de Bocage. Carlos de Miguel Mora elogiou a iniciativa organizada pela Confraria do Príapo, como forma de dar a conhecer toda a cultura local. O investigador disse que foi convidado para fazer parte da confraria, mas na altura teve um bocado de receio porque sendo espanhol não é muito conhecedor da cerâmica das Caldas. Outros eventos Continua a decorrer a primeira exposição de Terra das Malandrices, no Caldas Shopping (junto à Avenida da Independência Nacional). Esta mostra integra peças da cerâmica tradicional das Caldas de vários autores e podem ser apreciadas as várias malandrices antigas e contemporâneas. Mas nem só de barro se fazem os falo caldenses. Também os há em criativas propostas feitas pela confeitaria, doçaria e padarias locais. Houve até quem criasse produtos propositadamente para esta iniciativa como foi o caso da Mercearia Pena, que fez um bolo dedicado à Terra das Malandrices. No dia 7 de Novembro, às 18 horas, no CCC, o artista plástico Vítor Pomar orientará uma conversa pública intitulada “Comer, dormir e ir ao jardim zoológico – reflexões acerca da nossa vivência do quotidiano e sua relação com o modo como encaramos a realidade da existência e dos fenómenos”. Vítor Pomar, que expõe trabalho de fotografia na galeria Osíris (Câmara Municipal) no âmbito da 1ª Mostra Erótica-Paródica de Caldas da Rainha, é adepto de uma abordagem oriental e espiritual do erotismo O Café-Bar Inovação continua a aceitar reservas (tel. 965654665) para a Ceia das Malandrices, a ter lugar no dia 14 de Novembro, pelas 22 horas. A degustação dos acepipes erótico-paródicos será acompanhada por imagem e som da Ópera do Malandro, de Chico Buarque de Holanda. A 1ª Mostra Erótica-Paródica das Caldas da Rainha –Terra das Malandrices conclui este ciclo de qualidade no dia 21 de Novembro, às 18 horas, com a mesa-redonda “Garrafas das Caldas – origens, tradição e modernidade”, no qual participarão artistas, artesãos, comerciantes e investigadores caldenses. Marlene Sousa
Palestra “O Carácter Erótico-Burlesco de Príapo”
4 de Novembro, 2009
A colecção de poemas priápicos mais extensa e mais interessante é sem dúvida o chamado Corpus Priapeorum, disse Carlos de Miguel Mora, doutorado em Filologia Clássica e conceituado investigador de poética erótica latina na Universidade de Aveiro, que falava na palestra “O Carácter Erótico-Burlesco de Príapo”, que decorreu no CCC no passado dia 31, no […]

Palestra "O Carácter Erótico-Burlesco de Príapo"
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