A Internet e as novas tecnologias ao serviço da música catapultaram, hoje, muitos músicos para lugares de cimeira no panorama da canção.Com efeito, é muito mais fácil, hoje, aceder de forma rápida, a letras já com acordes ou obter o arranjo musical de certa canção mas tal não implica um aumento da qualidade da oferta musical. Em certos espectáculos de música ao vivo é já vulgar observar, melhor, ouvir, certos músicos que apenas cantam por cima do arranjo musical previamente elaborado e até obtido através da Internet. Por vezes até colocam os dedos em cima da guitarra ou teclado com estes desligados, fingindo que tocam, pois todo o acompanhamento já está feito. Um ouvido treinado apercebe-se disto ao verificar que a música é tocada exactamente da mesma maneira, como se fosse o jogo do “descubra as diferenças”, ou que a canção se repete interminavelmente, isto é, de forma desproporcionada em relação ao ambiente vivido na sala. O cantor Carlos Paião, infelizmente desaparecido em acidente de estrada, dizia, na sua canção Play Back, que “só precisas acertar”, mas, neste caso, é a voz que tem de acertar com a música pré fabricada. Estas considerações levam a questionar, afinal, o que é ser músico? É evidente que com esta técnica se acaba com a criatividade, com a improvisação de momento, com os solos mais ou menos prolongados, e até com as diferenças nas interpretações dando a sensação desconfortável de déjá vu , como se em cima do palco estivesse apenas um actor ou técnico, engenheiro ou funcionário que manipula muito bem o som e que presta um serviço quase rotineiro e por obrigação, como se estivéssemos a ouvir um CD. Na verdade, sabem os músicos, que é quase impossível tocar várias vezes uma canção exactamente da mesma maneira e que é crucial ter a sensibilidade para segurar no “leme” da noite e transmitir sempre renovadas e diferentes sonoridades “acertando” no jack pot das emoções e estados de alma do público que assiste . Aqueles músicos ficam sem dúvida com mais tempo e disposição para falar com o público e até contar anedotas como se fosse uma animação musical. Ficam com mais tempo porque não perdem tanto tempo com a execução musical, mas no final fica uma sensação de que se consumiu música enlatada, que nem já surpreende, sem emotividade e sem arte, sem ter havido um verdadeiro momento musical que perdure na memória daqueles que a ouviram, de forma a gerar o desejo agradável de repetição. Sendo a música a arte de inspirar e despertar sentimentos, esta não se poderá considerar uma obra de arte se não suscitar emoções no público. É evidente que é muito menos exigente ter apenas de alimentar o seu carisma, poder ou imagem pessoal e não ter de gerir os seus próprios sentimentos ou cuidar da sua forma física e mental, isto é, fazer todo o treino “invisível” que, por exemplo, os desportistas fazem quando têm de dar o seu melhor nas competições desportivas. Mas, para bem da música, é precisamente de músicos criativos, sensíveis e emotivos que a Música mais precisa para evoluir e confortar a alma daqueles que a ouvem. Colocar as tecnologias ao serviço da música para a transformar num dos ingredientes de um espectáculo ruidoso ou de mero divertimento ou reunião de amigos, sem alma musical, é desvirtuar a essência da música. Um bom espectáculo musical deve confortar e até redimir, deixando-nos diferentes no final. É um lenitivo para o ruído da vida moderna ensurdecedora e cansativa, onde os sons naturais quase desapareceram, é uma metafísica das emoções, um passaporte para a ilha paradisíaca de cada um, uma experiência irrepetível, uma rara e única peça de artesanato. Por isso, exceptuando as bandas de garagem que tocam as canções do género “ a ver quem consegue fazer mais barulho”, o que se torna desculpável em função da idade, cada vez mais se torna essencial perguntar, como critério de distinção e até de ética e responsabilidade entre músicos, o que é que aquele músico fez pela Música em vez de perguntar o que é que a música fez por ele. Carlos Alberto Gonçalves da Silva
Música – Arte ou modernice?
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