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Militares de Abril expõem em Óbidos visões divergentes

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“No 25 de Abril houve concordância total para o derrube do regime fascista. Após o 25 de Abril verificaram-se divergências”, comentou Otelo Saraiva de Carvalho, na noite da passada quinta-feira em Óbidos, na apresentação do livro de fotografia “Retratos de Abril – 35 anos depois”, da autoria de Veríssimo Dias. A sessão começou com o […]
Militares de Abril expõem em Óbidos visões divergentes

“No 25 de Abril houve concordância total para o derrube do regime fascista. Após o 25 de Abril verificaram-se divergências”, comentou Otelo Saraiva de Carvalho, na noite da passada quinta-feira em Óbidos, na apresentação do livro de fotografia “Retratos de Abril – 35 anos depois”, da autoria de Veríssimo Dias. A sessão começou com o presidente da Câmara de Óbidos, Telmo Faria, a lembrar o papel da vila na caminhada para o 25 de Abril, com a reunião do Movimento dos Capitães de 1 de Dezembro de 1973, na qual se elege a primeira comissão coordenadora. Mas a sessão ficou marcada pela profunda discórdia entre alguns dos militares de Abril que participaram na apresentação – Otelo Saraiva de Carvalho, Manuel Monge e Mário Tomé – quanto ao rumo do País e das colónias portuguesas após a Revolução. Manuel Monge, um dos membros do Movimento dos Capitães e da Comissão Coordenadora do MFA (Movimento das Forças Armadas), assumiu logo que “esta é uma obra onde estão muitas das pessoas que entraram no 25 de Abril e que têm visões muito diversas. A minha caminhada é muito diferente da do Otelo”. “Há duas perguntas que se gosta de fazer: onde é que estava no 25 de Abril e como é que vê hoje o país. Foi cumprido devolver a liberdade ao povo e o poder autárquico é das mais belas conquistas de Abril, mas sou defensor de que se podia ter feito melhor na descolonização, sem abandonar as colónias”, afirmou. Já o “Major Tomé” sustentou: “Antes de se pensar na democracia, o que mobilizou os capitães foi a necessidade de acabar com a guerra colonial”. “Depois da 2ª Guerra Mundial, começaram a cair as colónias da Inglaterra, França e Holanda e as nossas colónias não iriam resistir e em vez de Salazar preparar uma solução política que visasse a independência das colónias, preparando quadros locais para assumir responsabilidades no poder político em Angola ou na Guiné, não só não fez isso como preparou militares para uma guerra sem nexo e que nem sequer devia ter sido iniciada, onde centenas de milhar de guerrilheiros e famílias morreram”, sublinhou Otelo Saraiva de Carvalho, que não tem dúvidas de que “se não tivesse havido guerra colonial não tinha havido 25 de Abril”. Depois do 25 de Abril “uns quiseram levar por diante o programa político do MFA, outros viram a possibilidade de criar outras hipóteses de regime político em Portugal que não fosse exactamente a democracia burguesa representativa”, indicou o operacional estratega do movimento, para quem os “3 D’s” foram cumpridos, melhor ou pior. “A democracia está instaurada, fez-se a descolonização e o desenvolvimento do País vai-se fazendo”, referiu. Mas alertou: “O sonho era grande, mas a realidade é curta, aquilo que eu via possível ser alcançado em Portugal, está longe disso, e não posso estar satisfeito. O País sente-se bem? Não. O que era fundamental, incluído no desenvolvimento, era elevar o nível social e cultural do povo. Hoje temos dois milhões de portugueses em estado de pobreza, temos um sistema público que falha, a corrupção grassa no poder, a justiça funciona mal e porcamente”. Manuel Monge defendeu que “há um legado que tem ser recuperado – tornar a introduzir nos jovens o espírito de solidariedade, tal como na camaradagem dos militares, porque vivemos numa sociedade em que vale tudo”. Foi com intuito de “perpetuar a memória e homenagear os militares” que Veríssimo Dias reuniu fotografias actuais de 130 intervenientes na Revolução e no período pós-25 de Abril, num livro prefaciado por Mário Soares. Na capa está Celeste Martins Caeiro, a mulher que, na madrugada do 25 de Abril de 1974, ofereceu cravos aos militares, colocados nos canos das espingardas, gesto que ficou na génese do nome “Revolução dos Cravos”. A sessão terminou com o cantor convidado, Manuel Freire, a interpretar uma das canções mais emblemáticas da época, a “Pedra Filosofal”. Francisco Gomes (texto) Carlos Barroso (foto)

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