No ano passado foram assinalados cerca de 300 casos de maus tratos contra crianças e jovens nas Caldas da Rainha, sendo que seis foram relacionados com abusos sexuais. Estes dados foram divulgados na primeira reunião da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) das Caldas da Rainha, que deu o pontapé de saída para uma ronda de debates pelas 16 freguesias do concelho, no intuito de divulgar a comissão, o seu funcionamento e os direitos das crianças. A Associação Social e Cultural Paradense (ASCP), no Chão da Parada, freguesia de Tornada, foi a anfitriã para este início e elevou a fasquia, já que a participação e presença de pessoas foi enorme. Segundo Jorge Varela, presidente da CPCJ, “as Caldas não são um paraíso, porque a comissão avaliou 300 casos no ano passado”, embora tenha referido que “foram raros os casos em que se tiraram as crianças dos pais”. O presidente da CPCJ quer com esta ronda “ouvir, tirar dúvidas e receber ajuda das pessoas para melhorar as condições das crianças e jovens do concelho”. “Existem muitos casos, porque para a CPCJ mais do que zero são sempre muitos. Os maus tratos vão desde a negligência até ao caso extremo dos abusos sexuais ou que ponham em causa a vida das crianças. No ano passado eram mais de 300 casos e destes seis ou sete estavam relacionados com abusos sexuais” revelou Jorge Varela. O mais comum dos maus-tratos, segundo Soraia Lopes Silveira, uma técnica da CPCJ, “são os cuidados básicos na alimentação, higiene, acompanhamento, saúde e educação”. Também o acesso há escola é um problema, mesmo que todos tenham acesso, o que a CPCJ tem vindo a notar é que “os pais desvalorizam a escola”, indicou o presidente da comissão. Jorge Varela está preocupado com o factor crise que se vive actualmente, porque “é um terreno fértil para que haja maus tratos nas crianças e jovens”, associados à crise social. “Começa a notar-se esse aumento. A crise pode ter algo que prova um aumento. Nos últimos meses temos vindo a receber muitos pais que, pela instabilidade no trabalho, têm vindo a desenvolver problemas de pressão. Eles próprios se lamentam na CPCJ”, revelou Soraia Silveira. De uma vasta equipa de que fazem parte Jorge Varela, Soraia Silveira, Delfina Clemente, Luísa Barbosa, Vanessa Sobreiro, Teresa Manteigas, Patrícia Lança, Clara Ribeiro e Rosa, os técnicos querem divulgar o seu trabalho. “Estamos a fazer prevenção dos direitos das crianças, para que um dia possamos dizer que não há mais casos para resolver”, referiu o presidente da CPCJ. “Queremos com estas sessões sinalizar casos, mas também alertar consciências sobre os direitos das crianças para que cada vez haja menos casos. Quanto mais a comunidade estiver consciencializada de que as crianças são um bem preciso, que é preciso preservar, estaremos a contribuir para diminuir os casos de crianças em risco”, destacou Jorge Varela. Também uma das técnicas presentes, Luísa Barbosa, lembrou os perigos da Internet, interrogando também “porque os pais deixam os filhos sozinhos a ver televisão às seis da manhã”. “Digam-nos as coisas, nós aceitamos denúncias anónimas”, aclarou Luísa Barbosa. Da parte da ASCP, Norberto Raimundo lembrou que as crianças têm pouco tempo para brincar, enumerando os excessos de actividades. “As crianças têm tantas actividades que nem tempo para brincar têm. Vão para a escola, depois saem, vão para as actividades extra curriculares, depois vão para o ATL, depois estudam, depois vão para a ginástica, futebol, etc. No meio disto tudo não brincam”, considerou. Carlos Barroso
300 casos de maus tratos de menores nas Caldas

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