“No dia 2 de Setembro de 1908 nasceu o que viria a ser um Homem Bom que como tal se revelou bem cedo logo quando fez a opção pelo exercício da Medicina, conferindo-lhe um sentido de dádiva que foi preenchido com generosidade, abnegação, solidariedade e com verdadeira devoção”, palavras proferidas pelo Médico Cirurgião, Mário Gonçalves na sessão de homenagem, que assinalou a passagem do centenário do nascimento do médico João Vieira Pereira. João Vieira Pereira foi o primeiro médico em Alvorninha (4/4/1934) e também o primeiro doutor da Casa do Povo de Alfeizerão. A sua vinda para as Caldas da Rainha ocorreu em 1938, ano em que iniciou a actividade clínica na Associação de Socorros Mútuos Rainha D. Leonor. Por reunir em si um amplo conjunto de qualidades reconhecido pela população como modelo referencial, o Montepio Rainha D. Leonor em parceria com a Câmara Municipal das Caldas da Rainha e as Juntas de Freguesia de Alvorninha e de Alfeizerão decidiram homenagear este saudoso médico. Foi por certo um homem bom, porque foram muitas as pessoas que comparecerem às cerimónias comemorativas do 1º Centenário do seu nascimento, que se realizaram no passado dia 2 de Setembro. Pelas 10 horas, foi rezada uma missa solene com a presença do Cardeal Patriarca, D. José Policarpo na Igreja de N. Sra. da Conceição, seguido pela sessão solene que teve lugar no auditório da Câmara Municipal com a presença do Cardeal Patriarca, entidades oficiais e familiares do homenageado. Às 13 horas decorreu, na Casa de Saúde do Montepio Rainha D. Leonor, o descerramento do busto representativo da figura deste médico e ainda a inauguração do novo serviço de Radiologia com o seu nome, onde foram realizadas obras de remodelação e instalado um novo equipamento. O busto representativo deste médico é da auditoria do artista, Herculano Elias. Na sessão solene, Mário Gonçalves teve o privilégio de evocar umas palavras sobre o homenageado focando a imensa admiração que ele merece. Segundo o orador, a ligação do Doutor João Vieira Pereira ao mundo rural, vivida no início da sua actividade clínica nas Freguesias de Alvorninha e de Alfeizerão, deixaram-lhe marca indelével naquele primeiro tempo em que foi ao encontro do seu ideal de ser Médico. Décadas decorridas, afirmava o Doutor João Vieira Pereira, “Com isto tudo e depois de 58 anos de labor, direi: Sinto saudades da Clínica Rural com as suas dificuldades, o espírito de sacrifício, as caminhadas, as chamadas nocturnas, os partos no domicílio, os perigos e as canseiras, o afogamento, duas fracturas da bacia, uma rotura tendinosa num joelho, um trabalho sem férias, sem feriados, sem horários, sempre às ordens e ao serviço do Povo, sem chegar a ser rico. Mas eu queria voltar atrás, não para querer mais nem querer melhor, só queria apenas repetir-me…” Esta mensagem, e reflexão confirma, de acordo com Mário Gonçalves, “a sua vontade de estar para servir a qualquer momento e em qualquer lugar, sem desvanecimentos, correspondendo ao apelo que interiorizou como sendo o seu dever, comungando das alegrias, dando vidas, a cura, partilhando também os sofrimentos, dando o conforto perante as eventuais adversidades que por vezes atormentam o exercício da profissão”. Como proferiu, Mário Gonçalves, “A entrega tão franca destes bens inestimáveis evidencia a convicção e a coerência que acompanharam o Doutor João Vieira Pereira quando exerceu, com igual eficiência, a clínica rural, que aliás manteve de forma duradoura, e a clínica de feição urbana. Foi nesta transição gradual que se despediu, com que ternura certamente, do seu inseparável companheiro, no dorso do qual percorreu caminhos inóspitos, para cuidar dos seus Doentes. O Patriota cedeu então o seu lugar aos dois cavalos que moviam o automóvel que adquiriu para o seu uso em regime de permanência”. A sua vinda para as Caldas da Rainha ocorreu em 1938, ano em que o Doutor João Vieira Pereira iniciou a actividade clínica na Associação de Socorros Mútuos Rainha D. Leonor, Instituição onde criou, logo em 1939 e a expensas suas, um gabinete de electroterapia, tendo adquirido então, para além do equipamento próprio, também um gerador eléctrico, dada a então precária distribuição geral de corrente eléctrica na Cidade. O mesmo gerador proporcionou a realização dos primeiros bailes com luz eléctrica que se efectuaram, no grande salão que existia no Montepio. “Um sucesso, no dizer humorado do Doutor Vieira Pereira”, disse o orador, adiantando que, “logo no início da sua estada nas Caldas, foi de facto com o Montepio que estabeleceu um elo que se tornaria cada vez mais forte, numa ligação em que os aspectos profissionais se harmonizaram sempre com a sua natural afectividade”. No seu discurso, Mário Gonçalves, fez referência ao Montepio Rainha D. Leonor foi, nas Caldas da Rainha, “a Instituição pioneira na prestação de serviços no domínio da Radiologia, por virtude da oferta do respectivo equipamento, efectuada no ano de 1943, por um núcleo de Sócios apaixonados pelo Montepio. O Doutor João Vieira Pereira foi o responsável do Serviço assim criado, assegurando-lhe todo o seu apoio, numa disponibilidade permanente confirmativa de que as competências por si adquiridas estavam efectivamente ao serviço da Instituição. Verificamos à distância que foi a generosidade de alguns Sócios conjugada com a acção compreensiva e constante de um Médico, que permitiram fundar, no Montepio, uma unidade de Radiodiagnóstico que, com o decorrer dos anos, evoluiu para uma unidade de Imagiologia de ponta, mercê de uma adequada e progressiva modernização dos seus equipamentos e da imprescindível intervenção de recursos humanos técnica e profissionalmente qualificados”. Presente nesta sessão de homenagem esteve, Paiva de Carvalho, Governador Civil do Distrito de Leiria que também médico, comparou a postura profissional exemplar de João Vieira Pereira, com alguns profissionais da saúde da actualidade que “chegam ao meio da tarde e dizem que já querem consultar mais ninguém”. A Câmara Municipal das Caldas da Rainha deliberou atribuir a medalha de ouro ao homenageado. Foi na sessão solene que o presidente, Fernando Costa entregou este prémio à filha de João Vieira Pereira, Maria Luísa V. Pereira, recordando que a medalha de Prata de Gratidão e Mérito, foi-lhe conferida pelo mesmo Município a 11 de Março de 1981. Biografia do médico João Vieira Pereira Natural de Amieira do Tejo, Concelho de Nisa, frequentou o Liceu em Castelo Branco (1920/1927). Licenciatura na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (1927/1933); Frequência dos Serviços de Electroterapia dos Hospitais da Universidade de Coimbra; Curso de Medicina Sanitária; Curso de Tisiologia Clínica e Social (Coimbra); Curso de Hidrologia e Climatologia; Curso de Patologia Digestiva (Madrid 1951); Primeiro Médico em Alvorninha (4/4/1934); Primeiro Médico da Casa do Povo de Alfeizerão; Primeiro Médico dos S.M.S. do Concelho das Caldas da Rainha; Director do Dispensário Antituberculoso das Caldas da Rainha; Médico do Montepio Rainha D. Leonor, exercendo Clínica Geral em particular destinada aos seus Sócios, dando apoio ao Banco, intervindo como Anestesista; Estágio de Radiologia no Hospital de S. José e no Consultório do Dr. Manuel Corte Real (Radiodiagnóstico e Roentgenterapia); Primeiro Médico Radiologista do Montepio, do Hospital da Misericórdia das Caldas da Rainha e do Centro Hospitalar das Caldas da Rainha; Congressista no Congresso de Radiologistas de Cultura Latina e do Congresso Espanhol em Sevilha (1964); Autor de vários trabalhos publicados sobre temas Clínicos, Radiológicos, de Anestesiologia e de História da Medicina; Conferências realizadas nas Caldas da Rainha, Bombarral, etc., sobre temas do foro Clínico e Radiológico. Integrou como Anestesista, a primeira equipa cirúrgica que se constituiu no Montepio, da qual também faziam parte o Dr. Ernesto Moreira, o Dr. Mário de Azevedo e Castro e mais tarde o Dr. Jovalino Vieira Lino. Foi o primeiro Médico Radiologista do Centro Hospitalar, na sequência da sua vinculação ao Hospital da Misericórdia das Caldas da Rainha nesta mesma especialidade a qual exerceu igualmente nos Hospitais das Misericórdias do Bombarral e de Peniche. Testemunhas Maria Luísa V. Pereira filha do ilustre médico João Vieira Pereira Fiquei muito impressionada. Nós família sabíamos que ele era uma pessoa extraordinária e agora passados 15 anos da sua morte esta adesão às cerimónias do 1º Centenário do seu nascimento, é uma coisa espantosa e emociona imenso. Não lhe conheci nenhum inimigo. Ele conversava com todos na rua, sabia a história dos eus doentes e suas moradas, tinha uma memória espectacular. Não houve nenhuma referência à minha mãe e quero dizer que falar do meu pai é o mesmo que falar da minha mãe, Maria Ofélia Araújo Vieira Pereira. Natural das Caldas da Rainha, a minha mãe conheceu o meu pai em Alvorninha. Tiveram casados até a morte os ter separado e fruto do seu casamento nasceram cinco filhas e um filho e vai em doze netos e a caminho do décimo quatro bisneto. A minha mãe apoiava a família 100 por cento porque o meu pai era casado com o Montepio. Ele trabalhava dia e noite era uma dedicação aos doentes, nem tinha tempo para férias. Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo Conheci o Dr. Vieira Pereira, nomeadamente através das pessoas que ainda hoje têm uma memória muito grande dele pela sua bondade e dedicação aos doentes. Considero esta memória justa, trata-se mais que homenagear sublinhar qualidades humanas em favor da sociedade. Novo serviço de Radiologia do Montepio Rainha D. Leonor com o melhor equipamento do país Foi no âmbito das comemorações do 1º Centenário do Nascimento de João Vieira Pereira que foi inaugurado o novo serviço de Radiologia do Montepio Rainha D. Leonor, com o nome do ilustre médico. Com um orçamento de cerca de 400 mil euros, o novo serviço de radiologia foi remodelado e recebeu novo equipamento. Segundo o director do Montepio, Joaquim Sanches, foi colocado equipamento de ponta com a mais alta tecnologia que existe neste momento em radiologia fora e dentro do pais. “É o primeiro que vem para Portugal, em Lisboa há parecidos mas não com a possibilidade de fazer os exames todos que este faz”, revelou este responsável, acrescentando que “é um equipamento de radiologia digital, com a possibilidade da imagem do exame ser enviada on-line”. Marlene Sousa