Dois irmãos de Peniche com dificuldades cognitivas vivem há vários anos em extrema pobreza numa casa que ocupa pouco mais do que o espaço de um carro, sem água e electricidade, nem casa de banho. Sobrevivem com 122 euros que um deles recebe da assistência social e graças à ajuda dos moradores do bairro Casal dos Violas, que lhes dão alguma comida e dinheiro. João Paulo Páscoa e Luís Miguel Páscoa, de 36 e 34 anos, não têm trabalho, mas dão ajuda às peixeiras no mercado de Peniche, recebendo em troca algum peixe. O resto do tempo passam-no de um lado para o outro na cidade ou em casa a dormir, no exíguo espaço onde mal cabe uma cama. É no quarto – única divisão da habitação – onde têm pendurados sacos com comida, que se misturam com a pouca roupa que possuem. A descrição da casa fica por aqui, porque as paredes degradadas do interior pouco mais guardam. Para fazerem a barba, abrem a porta, onde colocam um espelho e utilizam um alguidar com água que vão buscar a uma fonte. “Não vivem nada bem no meio desta miséria – têm latas onde mijam e fazem as necessidades. A casa cheira mal e tem ratos”, descreve a vizinha, Elisabete Cardoso, que de vez em quando lhes deixa à porta pratos com comida. “Têm um fogãozinho e utilizam velas para não estarem às escuras, mas receio que qualquer dia adormeçam e haja um incêndio ou uma explosão”, manifesta. Maria de Fátima, amiga da mãe dos dois irmãos, que está internada num lar, aponta que se lhes atribuírem uma habitação social, todos os moradores estão prontos a ajudar. “Damos-lhes mobílias, lençóis, cobertores e comida, porque gostamos deles e sabemos que são bons rapazes e não ofendem nem fazem mal a ninguém”, garante. Os irmãos Páscoa terão algumas dificuldades relacionadas com o funcionamento mental: problemas de concentração, além de lentidão no raciocínio, dificuldade de percepção e desorganização do pensamento. João Paulo revelou ao JORNAL DAS CALDAS que já trabalhou no mar. “Tenho cédula de pescador mas está caducada. Para renová-la tenho de pagar, mas para isso tenho de ter quem me ofereça emprego”, disse. O irmão já trabalhou na construção civil, mas encontra-se desempregado. “Ficávamos muito satisfeitos se nos dessem uma casa e trabalho”, declarou. Segundo o JORNAL DAS CALDAS apurou, a assistente social da Câmara Municipal de Peniche já se deslocou ao local para se inteirar da situação dos irmãos. Francisco Gomes