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Histórias de Guerra

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Antigo fuzileiro quer promover encontro com camaradas que estiveram na Guiné José Augusto Jesus Tavares tem 57 anos e nasceu em Laranjeira, Alvorninha, Caldas da Rainha. Grumete do Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 4 (DFE-4) na Guiné-Bissau, em 1973-1974, pretende contactar com os antigos camaradas para promover um almoço de confraternização. “Gostava de os encontrar. […]
Histórias de Guerra

Antigo fuzileiro quer promover encontro com camaradas que estiveram na Guiné José Augusto Jesus Tavares tem 57 anos e nasceu em Laranjeira, Alvorninha, Caldas da Rainha. Grumete do Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 4 (DFE-4) na Guiné-Bissau, em 1973-1974, pretende contactar com os antigos camaradas para promover um almoço de confraternização. “Gostava de os encontrar. A maior parte deles não os devo conhecer, porque já foi há muito tempo e alguns já faleceram”, manifesta. José Tavares após o serviço militar regressou à Marinha Mercante, onde já trabalhava e esteve embarcado durante mais quinze anos, efectuando transportes marítimos para vários pontos do Mundo. Depois estabeleceu-se nas Caldas da Rainha, no ramo do comércio, fundando lojas de pronto-a-vestir e artigos de puericultura. Casado, tem três filhos, todos rapazes, com 30 anos (gémeos) e 23 anos. Tem dois netos, um com 9 anos e outro com 4 meses. Hoje recorda os tempos de guerra e os sacrifícios que se faziam na altura em nome do patriotismo. Antes de cumprir serviço militar trabalhou três anos na Marinha Mercante. Foi para a tropa em 1971 e entrou como grumete no (DFE-4. “Sabia que a malta especializada, como era o meu caso, ia para o Ultramar. Foi o que aconteceu em 1973, tinha eu 23 anos. Tive a vantagem de já conhecer a Guiné, porque tinha ido lá carregar e descarregar material. Conhecia bem África e o ambiente que ali se vivia. Mas a guerra desenrolava-se no mato, nos portos não havia problemas”, relata. Em Abril de 1973 foi como fuzileiro especial para a Guiné com a missão de render o DFE-7. “Fomos destacados para Ganturé, no Norte do território. Era um deserto. Fomos nós que construímos o aquartelamento numa das margens do rio Cacheu, a cerca de cinco quilómetros de Bigene. Deram-nos bidões de combustível para cortarmos as tampas e com as chapas montarmos a estrutura lateral do quartel. A parte de cima era com chapa zincada. Fizemos também abrigos e valas para garantir a nossa segurança”, recorda. “A população local era nossa amiga e gostava de nós. É verdade que havia alguns brancos que exploravam os africanos, mas ajudámo-los em muita coisa. Se nos lavavam roupa nós pagávamos. Muitos viviam à nossa custa”, conta. José Tavares descreve que “dividimo-nos em quatro secções – Alfa, Bravo, Charlie e Delta. Havia quem tivesse já cumprido mais comissões e era mais graduado. Lembro-me do Joaquim José Simões, de Ferreira do Alentejo, que era a terceira comissão que fazia e era um grande amigo. Às vezes imitava o Spínola, colocando o vidro do relógio num olho. Conhecíamo-nos mais pelos números do que pelos nomes de cada um. Havia o 2042, das Caldas da Rainha, que era o Abílio Pedro, com a alcunha de “Cavalinho”. Eu era o 2044/71″. “Para tomar banho tínhamos quatro bidões em cima de um tronco de árvore, que eram enchidos com uma mangueira ligada a um motor que ia buscar a água aos poços. Era água fria, mas também com o calor de África não era preciso aquecer. Também não estávamos lá para fazer turismo. Íamos tentar ganhar a guerra e a nossa preocupação era fazer o acompanhamento de oficiais em deslocação à região”, sustenta. “De quatro em quatro horas éramos atacados” Um dia, o comandante do destacamento, capitão Alves Jesus, deu-lhes a informação de que Guidaje estava a ser ocupada pelo PAIGC – Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, que era o inimigo, e tinham de avançar urgentemente para prestar socorro. “Fomos cumprir a ordem e nem tivemos tempo de pensar no perigo que íamos enfrentar”, confessa José Tavares. “Apesar de ser a minha primeira missão, eu já tinha experiência de armas, porque antes de irmos fizemos muitos exercícios em São Jacinto. A 8 de Maio fomos a caminho de Guidaje e passámos por uma zona onde no dia anterior uma coluna do Exército que ia abastecer o quartel foi alvo de uma emboscada do PAIGC. Só cheirava a carne assada. Faço ideia da malta que lá morreu. Lembro-me de um camarada do DFE 7 que estava a socorrer outro e pisou uma mina anti-pessoal que lhe levou uma perna. Para o armamento e munições não serem utilizados pelo inimigo foram enviados os Fiat – aviões da Força Aérea – para bombardear a área e destruir o material de guerra que estava nas viaturas atacadas”, refere. “Passámos ao lado e seguimos até ao quartel do Exército em Guidaje. Antes de chegarmos vimos dois pretos mortos no chão. Não tinham armas, só as cartucheiras na cintura. Fomos avisados para não mexermos nem sequer nos aproximarmos das pessoas mortas, porque a zona podia estar minada. Os abutres apareciam para comer a carne dos cadáveres. Era um cenário que agoniava”, garante o antigo fuzileiro. “No quartel, próximo da fronteira com o Senegal, de quatro em quatro horas éramos atacados por mais de 60 morteiros e tínhamos de correr para os abrigos. Nunca vi coisa igual. Passámos dias muito difíceis debaixo de tiro. Morreu muita gente e já não havia condições para lá ficar. A alimentação escasseava porque não havia abastecimento. Um africano ia atravessar a parada do quartel e foi atingido por um morteiro. Os estilhaços entraram-lhe no corpo todo. Não morreu e foi internado na enfermaria. Quando já estava melhor foi para um abrigo subterrâneo, só que o PAIGC atirou uma granada perfurante – que não rebentava logo – e acabou por morrer lá dentro. Quando fomos ver, estava com as pernas em cima da cama e a cintura no chão. Era mais uma baixa de forma inglória”, afirma o caldense. No dia 13 de Maio, estavam para sair para fazer o reconhecimento do local de onde vinham os ataques e um camarada do DFE 7 foi morto com o estilhaço de uma bomba que rebentou. Para uma partida honrosa para a eternidade exigiram uma urna para transportar o corpo e enviaram um helicóptero levá-la. “Não morri porque não calhou” O episódio mais dramático foi dias depois quando tiveram de fazer a rendição e regressar a Ganturé. Havia uma zona de clareira com 300 metros de largura, onde não havia mato, que tinham de atravessar. O PAIGC sabia que naquele dia havia uma coluna que partia de Ganturé e outra de Guidaje e que se cruzariam naquele local, e puseram-se à espera dos portugueses e espalharam minas por todo o lado. “Os primeiros a chegar fomos nós – carros com passageiros africanos que queriam abandonar Guidaje e ir para sítios mais seguros, e com malta nossa, alguns dos quais feridos. A minha esquadra teve sorte, porque nos conseguimos enfiar no mato, só que ficámos uma hora debaixo de fogo. Eles utilizavam uma arma cuja munição estourava e desfazia-se em estilhaços, o que se tornava perigoso. “Vamos a eles que ainda não desta que nos vão levar”, gritava, num apelo cheio de heroísmo, um oficial do destacamento, quando foi atingido nas costas”, narra. “Éramos poucos e o oficial teve de chamar os Fiat para nos socorrerem, porque estávamos sujeitos a morrer ali, já que ficámos encurralados. O chefe da minha esquadra, o marinheiro Moura, mais experiente do que nós, disse-nos: “Oh pupilos, guardem uma munição para cada um, para o caso de não conseguirmos vencer nos matarmos, em vez de nos entregarmos”. Cada G-3 tinha 13 munições e trazíamos sete cartucheiras e um morteiro. Nunca tinha ouvido tal coisa, mas foi uma exclamação normal, porque sabíamos das atrocidades e do sofrimento que poderíamos ser alvo. Não ficámos a pensar, nem reagimos. Acho que se fosse preciso despachávamos todas as munições que tínhamos. Mas felizmente não preciso reservar uma para nós. Hoje penso que parecia um filme e não sei se o conseguiríamos fazer se tivéssemos de disparar contra nós próprios”, confidencia o ex-militar. “Ouvimos as tropas do PAIGC a chamarem-nos “magala” porque pensavam que éramos do Exército. Não víamos o inimigo, mas eles também não nos conseguiam ver. Os tiros eram disparados às cegas e tínhamos de ficar agachados no chão para não sermos atingidos. Ouvíamos as balas a passarem. Até zuniam. Foi a pior altura pela qual passei. O PAIGC estava bem armado e utilizava mísseis para atacar os aviões. Os Fiat já tinham detector de mísseis e estes acabavam por rebentar no ar. Mas alguns foram atingidos. Ficámos à cabeça do touro e tínhamo-nos de desenrascar e a solução foi recuar para Guidaje, assim como os outros nossos colegas voltaram para o quartel de Ganturé. Voltámos a ser atacados e não tínhamos comunicações. Em Portugal, a família pensava que tinha morrido, porque se falava que a situação estava má e que tinha piorado. Na verdade, não morri porque não calhou”, manifesta. “Fomos comendo o que havia – até pernas de rã e carne de crocodilo, e ali ficámos alguns dias até sermos abastecidos. Até penso que foi mentira quando a situação ficou mais sossegada”, desabafa. Para além desta teve mais duas vezes a morte à frente dos olhos mas por acidente: “Uma vez foi no rio com botes. Levávamos a cartucheira e armas às costas. Eu costumava sempre andar com o motor. Fui pô-lo a trabalhar. Quando comecei a puxar o cordel o motor terá engatado e quando arrancou caí ao rio e por sorte não fui atingido pela hélice, senão retraçava-me todo. O comandante Alves Jesus já gritava: “Aquele já foi”. Mas afinal…não fui, não morri. De outra vez íamos do acampamento para o rio e os botes iam em cima de uma camioneta Mercedes. Tinha uma granada na G-3 e meti-a no porta-granadas, só que como não cabia a patilha de segurança, tinha de vir de fora. Eu vinha em cima da camioneta e ouvi dizer que havia uma mina anti-carro. Saltei da Mercedes para vê-la, só que no pulo a patilha da granada agarrou-se numa corda de um bote e partiu-se. Quando vi, pensei que ia morrer, porque era uma questão de segundos para rebentar. Mas não chegou a explodir”. Francisco Gomes

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